segunda-feira, 28 de março de 2011

CULTO OCULTO

“Por um segundo/ Num sorriso teu/ Fez-se festa infinita em minha vida...” (Gonzaguinha)

Ela curte Rimbaud,
Ela se liga em Bob Dylan,
Ela ama e odeia Caetano,
Ela é o colorir do preto-e-branco de minha vida,
Ela é a lira disto tudo,
Ela é meu exagero, minha paixão regrada...
Ela é o vírus do qual sou imune,
Ela é a doença que me cura,
Ela é o coro dum oráculo,
Ela é só ela, na dela,
costela originária do nada,
nado em meu id escancarado,
escarro que antecede beijos,
O Pequeno Príncipe que nunca li,
som uníssono que não ouvi,
ou vi,
bem-te-vi,
bem vinda...

Ela é o que a mãe não pode saber,
a mão do sábio que guiará estrelas,
Ela curte buracos negros, quer ser sugada por eles...
é reles flor do meu campo, um espinho da rosa
Ela é a glosa que me define, minha senha, segredo código...
xifópagos pródigos, duas faces, moedas do meu ser...
uma pessoa em dois...

e num culto oculto,
digo, na voracidade desta pitonisa,
a oração que ela declama
é chama, fogo que faz renascer Fênix - uma musa errante,
a palavra que me alimenta.

quinta-feira, 17 de março de 2011

O QUE SOMOS

Já me disseram
que somos o peixe que vendemos.

tento então ser antípoda a isto...

quero ser o que sou;
mesmo que andrógino poeta,
mesmo que um passo pra trás...

quinta-feira, 3 de março de 2011

MINHA FILOSOFIA

Com exatidão, para meu fracasso...

dizem que minha filosofia desanda,
dizem que minha filosofia samba, bamba
dizem que minha filosofia é leiga
minha filosofia anti-acadêmica...

dizem que minha filosofia não sabe responder
dizem que minha filosofia não sabe o ser ou diferenciar Kant,
dizem que minha filosofia não canta,
não serve pra quaisquer cantos....
dizem que minha filosofia chora, é menor, minúscula
sem músculos, sem oratória...
dizem que minha filosofia é otária, tem retardos,
inocente, sem galopes;
minha filosofia sem golpes, sem possibilidades,
filosofia muda, inútil, não dá pra passar...

minha filosofia analfabeta, sem caligrafias
minha filosofia que nada diz, não sabe dizer
nem traduzir-se gullarianamente,
não sabe provar, não tá na prova ou nas provas,
nem nos objetivos, não sabe discursar;

dizem que minha filosofia não é invejável,
nem orbitável, não se pauta
não tem alicerce, é mal formada
desformada uterino, é coisa de menino,
minha filosofia não cresceu, nem desenvolve...

dizem que minha filosofia não sabe...
simplesmente não sabe...
talvez nunca saiba...
sabiamente, dizer.