segunda-feira, 18 de outubro de 2010

ANTI-HAIKAI DO SOU(L)

defino-me: um hiato em certos momentos,
sou obsoleto para os amores populares,
talento ?! Levar topadas no dedão do pé...

sábado, 16 de outubro de 2010

POEMA PARA COMER DINHEIRO

Poema
Para ser feliz
Para ser lido
Para ser lado
Para qualquer ser
Para qual querer
Para declamar
Para clamar, mar...
Para comer dinheiro
Para ganhar inteiro
Para tornar-se metade
Para o dilema,
Poema...

Poema
Para parar
Para parir
Para rir da pá, do pé
Para perguntar
Para agüentar
Para sugar, açúcar
Para adoçar salgado
Para delgado
Para deleitar
Para iludir problema,
Poema.

Poema
Para descobrir
Para a cama, raptar camaleoa
Para acalmar
Para nadar
Para nada
Para dizer desdito
Para soar erudito
Para suar banal
Para finalizar o esquema,
Poema.

LIRA (NÃO VIRÁS)

Não adianta força-te, poema...
Não virás caso não queiras...
Eu, linhas num papel em branco,
Querendo torna-te moldado,
Não vens...
Não vens...
Nem tu e nem a bela dama a dar-me adeus...
Não virás.

O que tenho então, aqui despido?
Imploro e não vens, nada, nadinha...
Desgraçado poema, nefasto elixir
Venhas como o amor do marinheiro,
Venhas então inteiro, ó vinhas de minha lira!

Mas não vens...
Nuvens que nublam meu pensar,
Agonia tonta, aquilo torpor
Tentas transpor, não deixo...
Queres transportar-me num verbo quão carne,
Beijar-me em fel, traindo seu próprio espectro, seu amado irmão...

Somos faces da mesma Quimera,
À César o que é de César, siameses sem par...

Ah, poema...

PRA NÃO ENTRAR MOSCAS

minha boca
oca
não ousa
contar o que não
pode ser dito...
já foi então desdito,
assim moído,
tornou-se notório,
mas nem era
pra ter saído...

e saiu...

foi sem querer...

minha boca
de tão tola
não cola, nem se toca
que não era pra dizer...
mas agora já foi mal-dito
e vão maldizer aflito,
deste meu infortúnio delito...

vou me calar !!!!

fechar a boca
pra guardar segredos
pra não entrar moscas
pra evitar amistosas desmesuras,
ou fazer da censura
manchete nacional...

calar-se
para segurar
não brotar o segredo
fazê-lo para poucos, fiar os laços
confiar no veto, no velado tão hostil
não contar,
fechar a boca, deixar no âmago
no amargo de suas entranhas,
é só seu, não estranha
esta sensação de explodir mil
e conter pedaços.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

CASAL DE CÁGADOS

Um casal de cágados.
Ninguém sabe quem é quem - o macho,
a femêa, o beijo...
O casal de cágados.
Não fede, nem cheira,
não amam ou compreendem.
Casal de cágados,
iguais a todos os casais de cágados,
iguais aqui, na China,
no jardim zoológico
e no quintal do seu Xico.
Um casal de cágados
não é, não foi, nem será...
Não se entende a unicidade
do casal de cágado - não precisa de artigos,
de conceitos ou sentimentos...
O casal de cágados
é atemporal
não tem 12 de junho,
nem pedido de casamento...

O casal de cágados
(assim como o amor) não existe.

(2003)

A ANTI-MATÉRIA

"...Direi milhares de metáforas rimadas/ E farei das tripas coração/ Do medo, minha oração/ Pra não sei que Deus "H"/ Da hora da partida/ Na hora da partida/ A tiros de vamos pra vida/ Então, vamos pra vida..." (Cazuza)

"Os deuses são deuses porque não se pensam" (Fernando Pessoa)

Quem me olhar,
vai olhar para alguém que diariamente
vende sua alma para o primeiro indigente,
...triste e ambíguo
nascido do umbigo
como todos que me habitam...
Quem me olha
talvez distingua os relógios
que penetram meus olhos,
...e bebendo meu ego,
balanceando minhas torturas,
construindo canções ou
beijando todas as mulheres
como se a última fosse,
trsite, ambíguo, qualificado,
acabado, choroso ou apenaas um pássaro,
voando ou morto,
confundindo-se no céu e sangue...

Quem me olhar,
olhos coloridos na
minha vida sem cor,
vai saber que troquei minha alma
por uma noite com aquele corpo
...trsite, ambíguo
desfolhada
como a cena que vejo...
Quem me olha
peça talvez, como eu,
a anti-matéria
anti-coisa
anti-desejo, anti-cristão
e, antes,
o anti-anti...

quem me olha,
quem me olhar
triste e ambíguo, numa palavra:
"Os deuses são deuses porque não se pensam".

(2003)