“Poesia é a infância da língua.” (Manoel de Barros)
deixarei minha obra inacabada.
eternamente inacabada;
e mesmo que o vento entorte
o caminho de meu veredar,
mesmo que o ostracismo corroa
este meu emberbe verso,
não fazendo-o emblema ou coroa,
mesmo que o amor me deixe à toa...
ainda sim,
deixarei-a...
nunca concluirei meu concluir
não escaparei do âmbar lânguido, bárbaro
dos lábios que mornam meu terçã discurso,
não descorrerei jamais aquilo que parece óbvio
aquilo que se esconde de sombras,
margem que embaça minha imagem
transcendências inonimavéis do meu ser...
serei, senão, breve, leve
pluma mais pesada que o ar,
árvore deste seguir,
atómo que junta, constrói, destrói
para Mersault chorar
pros ídolos caírem
apenas para eu decompôr...
deixarei, ad infinitum
minha obra inacabada.
Um comentário:
"...nunca concluirei meu concluir..." e mora aí a resposta das perguntas inexplicáveis e o sentido do pensar.
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