terça-feira, 22 de janeiro de 2008

FUMAÇA COMO OFERENDA

Triste é saber
que vaca doente de abate vira vela,
vela de funeral,
vela de macumba,
uma vela para Deus
e fumaça como oferenda...

De um protozoário veio o mundo,
nas minhas veias há gene de macaco,
o Beagle imaginário me faz viajar feito cogumelos:
Yellow Submarine !!!
Yellow Submarine !!!

Salve Baudelaire e suas fugas !
Salve o morango no alto da colina !
Salve a salvação dos mendigos !
Prefiro o lixo ao luxo de suas casas...

Pois a fumaça que transcede da vela
é a doença da vaca - um miocárdio em necrose.
A passagem de tudo
é a passagem de tudo
eu como tudo
e o zero não é o nada, não...

Pois a criação de tudo veio por parcelas:
de Deus, de Darwin, das arqueas,
pois meu cérebro indica que estou vivo
e vivo é aquele que se diz esperto.

Sou taciturno,
aguardo a decisão do amanhã.
Não quero o que o mundo quer,
enxugo o que a vida insiste,
desisto
e vou,
pois parar é para os começos.
Intenso
acabo as palavras
e na mudez pálida
árida é a mudança
e as andanças
que o barco, o átomo,o nano
e o não
dão.

(2007)

2 comentários:

Anônimo disse...

Você se superando, heim mestre! Mateus, eu sei que é fajuta essa coisa de agregar valor em arte, mas eu tenho de dizer que este poema, para mim, é o melhor poema de todos que já li aqui no seu blog. Ele consegue não ser apenas ser o poema, mas toda a sua extensão. Este tem, sim, vida própria. Um grande abraço, meu amigo! Tudo de bom... (Germano)

Mateus Dourado disse...

E o q eu posso dizer senão um "muito obrigado" ?!
Também gosto muito deste poema. E ela me veio enquanto lia uma Superinteressante, q tal ?! Toda uma reflexão sobre a origem da vida mediante uma revista !!!
Valeu Germano...
Abraços !!!