"Quanto
mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem
voar."
(Nietzsche)
invejo todos que vejo:
os que têm liberdade sincera,
os que bebem enquanto trabalho,
os que dormem enquanto desamo...
invejo os que desarmam seus pudores,
os que perdoam sem lembrar,
os que esquecem e sonham,
invejo os que versam paixões,
os que querem e conseguem,
invejo os mais belos, os mais
inteligentes, os que cantam...
invejo os plenos,
invejo os que planejam, os que planam...
invejo os jovens que acreditam,
invejo os carpe diem juvenis, a
imprudência
invejo o sereno olhar do senil,
a confusão do esclerosado,
a confirmação do esclarecido,
invejo os insones que curtem o nascer do
sol,
invejo a preguiça dos enguiços,
invejo a lábia do vendedor,
invejo os lábios que beijam com fervor,
os sábios de quiz,
os que sabem ser feliz,
e os que, por um triz, sabem ser paradoxos tristes...
invejo os que saem,
os que viajam,
os que tem um Fusca,
os que tem mil histórias numa velha
mochila,
os que trilham, os que movem...
invejo a disposição que não tenho,
o encanto que perdi,
invejo a vida multicolorida dos olhares
esperançosos,
invejo os espaços que não alcanço
e a luz que não enxergo mais...
invejo, enfim, aqueles
que não sabem do fim,
os que continuam seus afins,
invejo os que não invejam,
invejo os que apenas são...
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