“É preciso transver o mundo.” (Manoel de Barros)
Novas rugas do meu pai,
velhas rusgas de mim...
abro meus olhos fechados.
Fecho então meu olhar aberto:
é lá onde lhe encontro...
Meus dentes sangram minha vaidade feia;
duma idade que vai,
entre tantos ais,
deixando cais,
ancorado num coroado ser...
Não acabar,
sim caber
apenas carpir...
ver além
a ler mãos,
a ler manhas...
escrevo o que vejo,
linhas paralelas que são meus olhos,
assim,
dizendo perco a força do que sou.
Então cravo: escrevo...
e faço como pássaro fazendo bioma
no dorso do rinoceronte...
bocas que não beijei,
bocas que me disseram não:
eu
não
ou eu vão ?!
retalhos dadaístas,
nexo sem anexar,
axiomas que beira-mar
marcas ou cacos...
dizer (des)dizer
desdenhar da fala,
desenhar o fato
transver o mundo...
seguir sem significados,
poema sem moral fabular
apenas inventar
ventar a pena que não voa,
translúcida, apenas...
planar, homem alado...
dizer, pra quê ?!
o poema é o que sou...
sou o que o poema é:
quebra-cabeça, cuca, cuco...
tempo templo,
tic-tac...
tudo numa brusca busca,
juntando quandos,
andando andares
passar passeando
passar e andar,
pedaços de cadarços,
nós de laços,
unção de nós...
de você...
de mim,
do fundo do rim,
dum eterno voo ser...
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