“Brilhar para sempre,
brilhar como um farol,
brilhar com brilho eterno,
gente é para brilhar,
que tudo mais vá para o inferno,
este é o meu slogan
e o do sol.” (Maiakóvski)
Ele não quer seus centavos,
nem os avos de sua salarial fração;
ele só quer um olhar de atenção,
uma palavra amiga, alguns conselhos,
alguém que o auxilie a sair
desta inócua posição de joelhos
e o faça se erguer para o mundo,
ele quer olhar no espelho
e não ver a face dum animal qualquer...
ele só quer ser mais um animal político...
E façamos mais que dizeres bíblicos,
vamos cessar os césares,
não ter mais líderes ou poderes:
poder, apenas um querer bem...
ele quer encher de acalantos
sua fome de vazios;
não precisa apenas do pão – tem
que viver também de circo;
de círculos, de grupos, de gente...
E que este brilho da gente
seja visto nos faróis, nos sóis
e nos slogans,
nos anúncios de vans,
nas vãs manhãs, nas polêmicas...
nas teses acadêmicas e nas simples trovas,
nas canções de cegos, no olhar bonito...
em tudo o que digo,
no mendigo que soube levantar:
que este brilho inato
esteja em qualquer tato,
assim, intacto
nunca estático,
brilho deste estribilho,
na valsa que conduz nosso ser...
que este SOS não nos deixe sós,
que nossas mãos sejam nós
e atem
os que têm
e os desvalidos...
Que seja válido este clamor,
que esmolas não sejam apenas vinténs,
que o amor vença todas as bombas biônicas,
e que os homens vejam uns aos outros
como olham, narcisamente,
para suas faces cínicas - tão clínicas de amar...
quinta-feira, 28 de julho de 2011
quarta-feira, 27 de julho de 2011
JARDINAR (DESISTIR DE VOCÊ)
Joguei, ao ar, sementes de amores-perfeitos;
algumas caíram no solo, mas amor dali não brotou...
fiz então bem-me-quer com as flores que nasceram,
mas nem um bem querer dali apareceu...
Seria erro do meu jardinar
ou da planta que, tão injusta,
não soube surgiu em sentimento ?!
assim sou: um jardineiro do fracasso...
Escasso de paixões,
campeão de coisas mal fadadas,
de fadas que não me querem amante,
avaro aos lascivos instantes, querendo-os em egoísmo,
não entendendo o porquê de tão excessivas amizades...
e quem dêra se meu semancol
concatenasse no dial do seu não...
quem me dera poder olhá-la sem
querer imacular seus beijos,
ah se pudesse apenas lhe ver
sem desejar a carne, sem cobiçar seus braços,
seus ombros, seus assombros...
vou desistir de você...
vou me entregar ao seu anti-corpo,
vê-la assim num pedestal,
sem pecar num toque,
vendo e torcendo pela sua felicidade
em braços estrangeiros,
querendo-a sem tê-la,
tendo que aceitar sua amizade que me faz
forte e fraco,
em mil paradoxos, tendo que ser único,
gritando ufânico que entendo
as razões que a própria mesma
não entende...
desistir de você,
decalcar você, assim: sempre amiga...
algumas caíram no solo, mas amor dali não brotou...
fiz então bem-me-quer com as flores que nasceram,
mas nem um bem querer dali apareceu...
Seria erro do meu jardinar
ou da planta que, tão injusta,
não soube surgiu em sentimento ?!
assim sou: um jardineiro do fracasso...
Escasso de paixões,
campeão de coisas mal fadadas,
de fadas que não me querem amante,
avaro aos lascivos instantes, querendo-os em egoísmo,
não entendendo o porquê de tão excessivas amizades...
e quem dêra se meu semancol
concatenasse no dial do seu não...
quem me dera poder olhá-la sem
querer imacular seus beijos,
ah se pudesse apenas lhe ver
sem desejar a carne, sem cobiçar seus braços,
seus ombros, seus assombros...
vou desistir de você...
vou me entregar ao seu anti-corpo,
vê-la assim num pedestal,
sem pecar num toque,
vendo e torcendo pela sua felicidade
em braços estrangeiros,
querendo-a sem tê-la,
tendo que aceitar sua amizade que me faz
forte e fraco,
em mil paradoxos, tendo que ser único,
gritando ufânico que entendo
as razões que a própria mesma
não entende...
desistir de você,
decalcar você, assim: sempre amiga...
segunda-feira, 25 de julho de 2011
PRO SUMIÇO DE QUEM QUERO BEM...
Cadê sua resposta, que não vem ?!
Cadê sua voz, cada vez mais muda ?!
Cadê seus bilhetes, tão escassos ao léu ?!
Cadê o sol, os anéis no céu,
cadê o girassol, o girar do carrossel ?!
Cadê você, que me prometeu o mais belo parabéns ?!
Cadê suas palavras, fazendo-me contente refém ?!
cadê a bala, cadê o trem,
cadê o cada, cadê a fala,
cadê alguém ?!
cadê sua boca, mesmo insossa ?!
cadê seus olhos, tão cegos do meu eu ?!
cadê suas divagações, tão sábias e sonsas ?!
cadê o que me nutre: aquele sorriso seu ?!
cadê você, cá está ?!
cadê, estaca que estanca meu ser ?!
cadê você, que não está no meu sofá ?!
você, que sufoca em dolo a razão que há... cadê ?!
Cadê você, voou ?!
Cadê você, nas luas ou no luar ?!
Cadê o amor-amigo, onde o abrigo faz-se dor...
Você, agridoce amizade no qual sonho avançar...
cadê você ?!
Cadê sua voz, cada vez mais muda ?!
Cadê seus bilhetes, tão escassos ao léu ?!
Cadê o sol, os anéis no céu,
cadê o girassol, o girar do carrossel ?!
Cadê você, que me prometeu o mais belo parabéns ?!
Cadê suas palavras, fazendo-me contente refém ?!
cadê a bala, cadê o trem,
cadê o cada, cadê a fala,
cadê alguém ?!
cadê sua boca, mesmo insossa ?!
cadê seus olhos, tão cegos do meu eu ?!
cadê suas divagações, tão sábias e sonsas ?!
cadê o que me nutre: aquele sorriso seu ?!
cadê você, cá está ?!
cadê, estaca que estanca meu ser ?!
cadê você, que não está no meu sofá ?!
você, que sufoca em dolo a razão que há... cadê ?!
Cadê você, voou ?!
Cadê você, nas luas ou no luar ?!
Cadê o amor-amigo, onde o abrigo faz-se dor...
Você, agridoce amizade no qual sonho avançar...
cadê você ?!
quinta-feira, 21 de julho de 2011
O PASSADO PRESENTE
“Uma simples frase nos falsifica ao infinito. Um poema é uma pose...” (Nelson Rodrigues)
Gosto de olhar meus sapatos
enquanto caminho...
é como se o tempo ziguezagueasse
numa linha reta,
ou como se os paralelepípedos
fossem a concretização
do que passei...
passei, passei...
passou.
como se meus passos
nunca parassem num plano qualquer;
como se eu mantesse, ainda intacto num âmbar,
o passado presente,
feito um abraço em forma de caminho.
Gosto de olhar meus sapatos
enquanto caminho...
é como se o tempo ziguezagueasse
numa linha reta,
ou como se os paralelepípedos
fossem a concretização
do que passei...
passei, passei...
passou.
como se meus passos
nunca parassem num plano qualquer;
como se eu mantesse, ainda intacto num âmbar,
o passado presente,
feito um abraço em forma de caminho.
quinta-feira, 14 de julho de 2011
ESTA SUA ONIPRESENÇA
O telefone não toca à dias:
é o desamor que adia
estes desarranjos que nos separam;
há dias que são assim -
você tão longe de mim
que pareço morar na Sibéria,
e você em qualquer lugar...
esta sua onipresença chega a ser devaneio,
feito areia e deserto, um mar em veraneio,
e cadê seu corpo ?!
você não está aqui ou ali,
nem cá, nem em minha casa...
está sim no meu cabelo,
no meu ar, no meu cerebelo,
no número, no úmero, no útero
no esmero dum bordar, no abordar do sol,
na passagem dos dias, no futebol,
no arrebol do ocaso, no acaso sombrio,
no arrepio de frio,
num toque de oboé...
Você está em tudo,
até no telefone mudo
ou na mudança da estação...
Você está no invisível,
na telepatia,
na tela do computador - ao me dizer bom dia;
no dia bom, no riso farto,
na treva, na trova, na prova final
você está...
só não está ao meu lado...
assim
sinto-me alado sem plumas
dia nublado, pintado em brumas
incolor, chato, num dissabor...
assim
fico num coletivo só,
sem objetivo, tino ou destino vil
pratico dolos, fico vândalo
minto mito, pinto o que não há,
entro numa esquizofrenia
que oculta minha razão,
faço tolices, infantilizo meninices
vou pra qualquer esquisitice
ao saber que você não está ao meu lado,
ou que não receberei nada em garrafas;
mendigarei nesta estafa por um recado seu,
por um ditado de seus ditames que tanto torna
meu pranto feliz, que retorna
aquela esperança do quanto posso,
do quanto vou conseguir...
mas você não está ao meu lado...
então sou apenas mais um,
sou mais um apenas,
não sou mais,
sou apenas
um.
é o desamor que adia
estes desarranjos que nos separam;
há dias que são assim -
você tão longe de mim
que pareço morar na Sibéria,
e você em qualquer lugar...
esta sua onipresença chega a ser devaneio,
feito areia e deserto, um mar em veraneio,
e cadê seu corpo ?!
você não está aqui ou ali,
nem cá, nem em minha casa...
está sim no meu cabelo,
no meu ar, no meu cerebelo,
no número, no úmero, no útero
no esmero dum bordar, no abordar do sol,
na passagem dos dias, no futebol,
no arrebol do ocaso, no acaso sombrio,
no arrepio de frio,
num toque de oboé...
Você está em tudo,
até no telefone mudo
ou na mudança da estação...
Você está no invisível,
na telepatia,
na tela do computador - ao me dizer bom dia;
no dia bom, no riso farto,
na treva, na trova, na prova final
você está...
só não está ao meu lado...
assim
sinto-me alado sem plumas
dia nublado, pintado em brumas
incolor, chato, num dissabor...
assim
fico num coletivo só,
sem objetivo, tino ou destino vil
pratico dolos, fico vândalo
minto mito, pinto o que não há,
entro numa esquizofrenia
que oculta minha razão,
faço tolices, infantilizo meninices
vou pra qualquer esquisitice
ao saber que você não está ao meu lado,
ou que não receberei nada em garrafas;
mendigarei nesta estafa por um recado seu,
por um ditado de seus ditames que tanto torna
meu pranto feliz, que retorna
aquela esperança do quanto posso,
do quanto vou conseguir...
mas você não está ao meu lado...
então sou apenas mais um,
sou mais um apenas,
não sou mais,
sou apenas
um.
terça-feira, 12 de julho de 2011
SINESTESIA
ouvir
algo que lhe faça chorar,
ver
algo que lhe faça sorrir,
sentir
algo que lhe faça agir,
aspirar
algo que lhe faça cair...
sinestesia, anestesia,
o corpo dolente que sente,
lentes que analisam
lentamente,
a mente vã, o corpo são;
sãos e salvos, são fluídos
ruídos moídos, miúdos cânticos,
como se tais desejos tântricos
viessem escutar
acostumar...
costurar o mar na palma da mão,
no não que brota da afirmação,
traço da ação,
da dádiva de ter o seu gozar...
e comer seu som
com o dom mágico do onírico,
lírico bandido,
distribuir seu amor aos mendigos,
dar a bondade dos seus passos
àqueles que aquarelam,
quaram o instante dum amarelo sépia;
e daquilo que virá,
tranquilo voo num declinar da corda bamba,
bomba que explode, rosa transmutada...
ouvir o azular do céu,
seu cintilar num pacto de dedos,
talvez não seja cedo para decidir
num "papai-do-céu mandou",
pra testar sua testa na minha,
pra me fazer seu...
pra não me fazer só...
pra atar nós...
nossos corações, nossos pés...
nossas fé numa mesma comunhão,
fuga de caminhão, acasalar feito ursos,
nossa felicidade jorrando num curso de rio,
rir e dormir contigo,
numa confusão de sentidos
na felicidade de te pedir à uma estrela caída.
algo que lhe faça chorar,
ver
algo que lhe faça sorrir,
sentir
algo que lhe faça agir,
aspirar
algo que lhe faça cair...
sinestesia, anestesia,
o corpo dolente que sente,
lentes que analisam
lentamente,
a mente vã, o corpo são;
sãos e salvos, são fluídos
ruídos moídos, miúdos cânticos,
como se tais desejos tântricos
viessem escutar
acostumar...
costurar o mar na palma da mão,
no não que brota da afirmação,
traço da ação,
da dádiva de ter o seu gozar...
e comer seu som
com o dom mágico do onírico,
lírico bandido,
distribuir seu amor aos mendigos,
dar a bondade dos seus passos
àqueles que aquarelam,
quaram o instante dum amarelo sépia;
e daquilo que virá,
tranquilo voo num declinar da corda bamba,
bomba que explode, rosa transmutada...
ouvir o azular do céu,
seu cintilar num pacto de dedos,
talvez não seja cedo para decidir
num "papai-do-céu mandou",
pra testar sua testa na minha,
pra me fazer seu...
pra não me fazer só...
pra atar nós...
nossos corações, nossos pés...
nossas fé numa mesma comunhão,
fuga de caminhão, acasalar feito ursos,
nossa felicidade jorrando num curso de rio,
rir e dormir contigo,
numa confusão de sentidos
na felicidade de te pedir à uma estrela caída.
quinta-feira, 7 de julho de 2011
PRA EU ME ENTENDER
"Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor."
(Maiakovski)
Queria dividir contigo
tudo o que falo sozinho,
queria que o que escrevo mudo
não lhe fosse tão sânscrito...
Mas não quero gastar saliva
apenas com blá-blá-blás:
não lhe beijar é blasfêmico,
gostar de você é endêmico,
faça de mim seu par
pra eu me entender...
e façam riffs pro meu versar,
tragam rifles para roubar
este beijo que você quer poupar desta alma infante,
tosca e vil...
Trazê-la pra mim duma forma brusca,
atinar esta minha busca ofegante,
torna-me gigante pra merecer você,
decifrar assim
este elo que insiste em nos desunir,
pra finalmente
eu me entender..
(Maiakovski)
Queria dividir contigo
tudo o que falo sozinho,
queria que o que escrevo mudo
não lhe fosse tão sânscrito...
Mas não quero gastar saliva
apenas com blá-blá-blás:
não lhe beijar é blasfêmico,
gostar de você é endêmico,
faça de mim seu par
pra eu me entender...
e façam riffs pro meu versar,
tragam rifles para roubar
este beijo que você quer poupar desta alma infante,
tosca e vil...
Trazê-la pra mim duma forma brusca,
atinar esta minha busca ofegante,
torna-me gigante pra merecer você,
decifrar assim
este elo que insiste em nos desunir,
pra finalmente
eu me entender..
A MINHA RESPOSTA
De você vai depender
a minha resposta;
só de você, querida...
só você,
torpe e meandro de minha vida...
A minha resposta então virá,
virará pó ou par,
parênteses do seu casulo,
anelar minha impaciência em tê-la,
anular meus dedos que não te guiarão,
enxergá-la em perfeição,
numa tela só nossa...
torta assim você é sublime,
lágrimas pretas de rimel, heroína francesa de filme,
firme solos que iluminam meu caminho de nuvens.
Esta neblina que você entende fuligens
pode ser apenas uma fase, meu bem...
tal qual a lua mostra-se por face...
faça-me parte destas suas agonias !
ver-me verme – assim verei-me enquanto
seus lábios não forem íntimos
de meus dentes ínfimos,
tão lábaros quando dizem seu nome,
quando me faz príncipe em qualificar-me,
iluminando este espaço inócuo, sem ação,
parado quarto vangoghiano...
ou quando cita um coração selvagem –
epítetos do nosso amar invisível...
A minha resposta à vida
que soca o ventre seco,
um Deus que não ouve,
ou ouve...
será que houve
uma dádiva e eu, olhos de estátuas,
cego não me orientei por nenhuma estrela ?!
Assim, enfim
juro nunca mais desdizer de mim,
prometo mais nunca me ofender com palavras ácidas,
ou com cálidas ofensas
ou digestões vãs...
Conseguirei até olhar o que mais de belo há em mim,
poderei sim;
lá devia estar e eu não via,
mas juro por qualquer coisa que alumia
que meu olhar se abriu enquanto você sorria,
e eu descobri assim,
que posso ser paraíso-labirinto,
mito dum rito que
consigo
só...
a minha resposta;
só de você, querida...
só você,
torpe e meandro de minha vida...
A minha resposta então virá,
virará pó ou par,
parênteses do seu casulo,
anelar minha impaciência em tê-la,
anular meus dedos que não te guiarão,
enxergá-la em perfeição,
numa tela só nossa...
torta assim você é sublime,
lágrimas pretas de rimel, heroína francesa de filme,
firme solos que iluminam meu caminho de nuvens.
Esta neblina que você entende fuligens
pode ser apenas uma fase, meu bem...
tal qual a lua mostra-se por face...
faça-me parte destas suas agonias !
ver-me verme – assim verei-me enquanto
seus lábios não forem íntimos
de meus dentes ínfimos,
tão lábaros quando dizem seu nome,
quando me faz príncipe em qualificar-me,
iluminando este espaço inócuo, sem ação,
parado quarto vangoghiano...
ou quando cita um coração selvagem –
epítetos do nosso amar invisível...
A minha resposta à vida
que soca o ventre seco,
um Deus que não ouve,
ou ouve...
será que houve
uma dádiva e eu, olhos de estátuas,
cego não me orientei por nenhuma estrela ?!
Assim, enfim
juro nunca mais desdizer de mim,
prometo mais nunca me ofender com palavras ácidas,
ou com cálidas ofensas
ou digestões vãs...
Conseguirei até olhar o que mais de belo há em mim,
poderei sim;
lá devia estar e eu não via,
mas juro por qualquer coisa que alumia
que meu olhar se abriu enquanto você sorria,
e eu descobri assim,
que posso ser paraíso-labirinto,
mito dum rito que
consigo
só...
TEMPORALIDADES (EM VÃO)
Certas situações desbotam o tom.
Nada é mais como antes, não...
Tudo é tão espectral, tão prosaico,
mosaicos dum passado que futuralizará...
Nada é mais como antes, não...
Tudo é tão espectral, tão prosaico,
mosaicos dum passado que futuralizará...
segunda-feira, 4 de julho de 2011
INTRANSITIVO II
Poesia, minha lobotomia
Poesia, minha pantomima
Poesia, meu sacrilégio
Poesia, meu sacríficio
Poesia, minha guilhotina
Poesia, meu ressurgir
Poesia, minha fogueira inquisidora...
Poesia, meu purgante
Poesia, meu odor
Poesia, minha dor
Poesia, meu suor
Poesia, meu traço
Poesia, meu braço
Poesia, minha essência
Poesia que me mantém tão unido a você,
Poesia que me distancia de você,
Poesia que me deixa bobo, que me torna rei
Poesia, meu xeique
Poesia, meu xeque
Poesia, meu sei não sei
Poesia, meu espaço
Poesia, meu esboço
Poesia, meu poço
Poesia, meu passo
Poesia, meu intransitivo
Poesia, meu não transar...
Poesia, mar que nos distancia
Poesia, istmo que nos une...
Poesia, paradoxo que pune
Poesia, conclusão cética do que não sou.
Poesia, minha pantomima
Poesia, meu sacrilégio
Poesia, meu sacríficio
Poesia, minha guilhotina
Poesia, meu ressurgir
Poesia, minha fogueira inquisidora...
Poesia, meu purgante
Poesia, meu odor
Poesia, minha dor
Poesia, meu suor
Poesia, meu traço
Poesia, meu braço
Poesia, minha essência
Poesia que me mantém tão unido a você,
Poesia que me distancia de você,
Poesia que me deixa bobo, que me torna rei
Poesia, meu xeique
Poesia, meu xeque
Poesia, meu sei não sei
Poesia, meu espaço
Poesia, meu esboço
Poesia, meu poço
Poesia, meu passo
Poesia, meu intransitivo
Poesia, meu não transar...
Poesia, mar que nos distancia
Poesia, istmo que nos une...
Poesia, paradoxo que pune
Poesia, conclusão cética do que não sou.
UM POEMA-ROCK PARA MINHA REVOLTA
Ó Deus,
também estou cansado de tantas guerras,
de tantas violências ou falta de leitos nos hospitais...
Juro que me incomodo com crianças famintas,
com pessoas aflitas ou com a devastação da Amazônia...
Me abalo facilmente com cães abandonados,
com tsunamis horrendas e com políticos corruptos...
Mas, ó meu Deus...
compadeça dessa minha dor,
ela já é bem antiga,
peço todos os dias, abuso de seus ouvidos moucos...
Meu Deus,
sei que todas vem para o bem,
mas confesso que não é reclamar do nada;
Gosto de todas, mas queria apenas uma namorada
Confesso: cansei de só ter amigas !!!
Um poema-rock para minha revolta,
Estou puto, cansado, cansado !!!
Todos se dão bem, parecem pro amor ter bom trato,
um tato adestrado, um faro pra coisa...
Já eu, pobre coitado,
peço em vão e tenho que sofrer sofro calado,
- Chega, chega, agora quero reclamar !!!
Faço do poema minha voz muda,
são letras onde digo o que meu ego não ecoa,
coagulo esta vontade e estanco a sina;
tenho que lutar pelo ser que quero,
ir pra dolosa briga...
Porém, sem as qualidades e os esmeros
vivo paladino e oculto, feito eclipse sem admiração
um riff contido, balada sem canção
retido numa senha mágica: amiga...
então questiono se o destino de meus genes
é tornarem-se estéreis
ou assexuados,
nesta minha sexualidade velada, invisível,
que não se valoriza, que não faz cartaz...
este meu veredar coxo
que não me faz estar em suas coxas,
no ruborizar que provocar meu palavrear...
cancioneiro do amar contente,
indecentemente me abdica desta cantiga
Senhor – clamo – pelo amor cadente
Não me traga mais uma amiga...
P.S: Em nenhum momento me revolto aqui contra minhas amigas, muito longe disto... Na verdade só peço pra que o dádivo me ofereça uma namorada no futuro, sei lá...
também estou cansado de tantas guerras,
de tantas violências ou falta de leitos nos hospitais...
Juro que me incomodo com crianças famintas,
com pessoas aflitas ou com a devastação da Amazônia...
Me abalo facilmente com cães abandonados,
com tsunamis horrendas e com políticos corruptos...
Mas, ó meu Deus...
compadeça dessa minha dor,
ela já é bem antiga,
peço todos os dias, abuso de seus ouvidos moucos...
Meu Deus,
sei que todas vem para o bem,
mas confesso que não é reclamar do nada;
Gosto de todas, mas queria apenas uma namorada
Confesso: cansei de só ter amigas !!!
Um poema-rock para minha revolta,
Estou puto, cansado, cansado !!!
Todos se dão bem, parecem pro amor ter bom trato,
um tato adestrado, um faro pra coisa...
Já eu, pobre coitado,
peço em vão e tenho que sofrer sofro calado,
- Chega, chega, agora quero reclamar !!!
Faço do poema minha voz muda,
são letras onde digo o que meu ego não ecoa,
coagulo esta vontade e estanco a sina;
tenho que lutar pelo ser que quero,
ir pra dolosa briga...
Porém, sem as qualidades e os esmeros
vivo paladino e oculto, feito eclipse sem admiração
um riff contido, balada sem canção
retido numa senha mágica: amiga...
então questiono se o destino de meus genes
é tornarem-se estéreis
ou assexuados,
nesta minha sexualidade velada, invisível,
que não se valoriza, que não faz cartaz...
este meu veredar coxo
que não me faz estar em suas coxas,
no ruborizar que provocar meu palavrear...
cancioneiro do amar contente,
indecentemente me abdica desta cantiga
Senhor – clamo – pelo amor cadente
Não me traga mais uma amiga...
P.S: Em nenhum momento me revolto aqui contra minhas amigas, muito longe disto... Na verdade só peço pra que o dádivo me ofereça uma namorada no futuro, sei lá...
INTRANSITIVO I
Uma menina lê enquanto caminha.
Encantou-me.
Mas ela não retribuiu o olhar...
Seria a concentração na leitura
ou a mera constatação do óbvio - a de que
nunca sou notado - enfim ?!
Encantou-me.
Mas ela não retribuiu o olhar...
Seria a concentração na leitura
ou a mera constatação do óbvio - a de que
nunca sou notado - enfim ?!
LANGERIE
Uma conversa de mulheres por telefone:
- Dalva, você já sabe o que vai ganhar no Dia dos Namorados ?!
- Hum... Nem faço ideia. Pra falar a verdade, eu nem sei se o Rafael vai me dar algo este ano...
- Ah, eu desconfio que ele vai dar sim, amiga...
- Ué, e por que você desconfia disto ?!
- É que eu o vi saindo ontem duma sex shop...
- Sex shop ?! O Rafael nunca foi dado disto...
- Bem, sempre tem uma primeira vez né... Talvez ela tenha lhe comprado uma langerie...
- Langerie ?! Não, não... O Rafael nunca foi dado a isto...
- Pára de falar isto, Dalva !!! Como já lhe disse, sempre se tem uma primeira vez...
- Será, amiga ?! Não... O Rafael é tão polido em sua timidez, tão sisudo em suas morais e tal...
- Moça, vai por mim... Vai que ele queira dar uma apimentada na relação... E outra: o que ele faria numa sex shop ?! Foi comprar jornal ?!
Dalva emudece por instante. A amiga insiste, temerosa:
- Dalva, você taí ainda ?!
- Hãn ?! Ah, tou sim...
- E então ?!
- Perdão, Bárbara... É que é tudo tão confuso pra mim...
- Amiga, deixa de neurose. A questão é simples: o Rafael vai te dar algo de sex shop, imagino que uma langerie...
- Mas é que é tão raro Rafael se lembrar de datas, de presentes... E quando se lembra, é sempre a mesma coisa que ele me dá: uma caixa de bombons baratos e um cartão.
- Ah, Dalva... Sei lá, este ano ele quis dar uma inovada. São quantos anos mesmo de casados ?! Doze ?!
- Quatorze. Faremos quinze anos em setembro. A mesma idade de Lígia, a minha mais velha...
- Tá bom então... Ah, o presente é pra você mesma. Ou você desconfia que ele tem uma amante ?!
Ficou com aquela pergunta na mente, ecoante como pedido de socorro numa caverna. O Rafael, daquele jeitão que só ele, com uma amante ?! Não, descogitou aquilo no imediato... Despediu-se da amiga e desligou o telefone.
Dia dos Namorados, noite. Dalva está deitada em sua cama, fingindo ler uma revista. Seu pensamento estava no presente que, até agora, não havia ganho... Logo adentra Rafael, pacote em mãos. Beija levemente a boca da esposa e diz:
- Feliz Dia dos Namorados, amor... – entrega-lhe o presente.
Ela, em êxtase:
- Ah, querido, não precisava...
E desenrolava o pacote com fervor. Mal poderia esperar pra ganhar...
- Bombons ?! Cartão ?!
- Ué, não gostou ?!
- Não, não é isto... Mas é que...
- Qué que foi, meu bem ?! – diz, beijando na nuca.
- Ah, Rafa... Sei lá... É que eu pensei que este ano você ia me dar...
- Dar o quê ?!
- Assim, sabe... Algo bem diferente, mais, mais...
- Mais ?!
- Ah, você nem faz ideia ?!
- Ideia ?! Ideia do quê ?! Não tou lhe entendendo, Dalva...
Ela se levanta da cama, já fula da vida:
- Rafael, a Bárbara me disse que te viu saindo duma sex shop dia destes... O que o senhor foi fazer por lá ?!
Rafael fica multicolor:
- Bárbara... sex o quê ?! Não tou entendendo...
- Eu que quero uma explicação aqui... A Bárbara não é dada a mentir ou ter enganos. Se ela te viu saindo duma sex shop, é porque você saiu duma sex shop. Eu só quero saber o que o senhor tava fazendo por lá... Aposto que não estava rezando, né ?!
Rafael balbucia algo, anda em círculos, como se procurando uma resposta...
- Foi a Bárbara quem viu ?! Você jura: foi ela mesma ?! Não foi ninguém que viu e contou a ela, né ?!
- Foi sim, homem... Por favor, me explique logo este quiprocó. Rafael, se você tem uma amante, se você tem uma... – não conseguia completar seu gaguejo.
- Bem, vou ter que contar mesmo né...
- Você tem mesmo uma amante, Rafael ?!
- Eu ?! Eu não, coração... Vem cá, vem... – e aproxima-se da esposa, repousando-a de leve na cama. Explana:
- Você quer realmente saber toda a verdade ?!
- Claro... – diz, choramingando.
- Bem, é difícil de dizer...
- Não, não é, Rafael... Basta você me dizer que tem uma amante e aí eu saio de sua vida, levo as crianças, vou morar com a mamãe...
- Não, eu não tenho amante, já lhe disse...
- E então ?!
- Bem, eu realmente fui numa sex shop...
- Tá vendo, eu não disse ?!
- Calma, deixa eu me explicar... Bem, eu fui na sex shop, mas não comprei presente pra amante alguma...
- Ah, Rafael, conta outra !!!
- É sério, amor... Fui na sex shop...
- E comprou uma langerie, acertei ?!
- É, foi...
- E ainda confessa, seu cafajeste... Aposto que esta sua amante deve ter uns vinte anos ou menos. Ai, maldição...
- Me escuta, Dalva... Não tem amante nenhuma, friso...
- A casa caiu, Rafael... Confessa logo, diga logo toda a verdade. Prometo suportar...
- Dalva, acredite em mim: não tenho amante nenhuma. Meu coração e meus olhos só tem atenção pruma mulher só, querida...
- Você ainda não me disse o que foi fazer numa sex shop... Se você comprou uma langerie, certamente era pra mim... Ou não, seu sacana, filho duma...
- Tá, comprei a langerie... Mas ela não era pra você...
- Pronto, assinou a confissão...
- Não era pra você e nem pra nenhuma amante minha...
- Como ?! Vai me dizer então então que você a comprou pra si mesmo ?!
- Oras, claro que não...
- E então...
Bufa no ar, esmurra a porta do armário, faz cena e diz:
- Eu a comprei pro Ary...
- Ary ?! Marido da Bárbara ?!
- Sim, ele mesmo...
- Mas pra quê ele iria...
- Ele é que tem uma amante na verdade... Uma ninfetinha, um pouco mais velha que a Lígia...
- Credo, que safado...
- Pois é... Ele queria comprar um agrado pra ela e não tinha coragem de ir numa ex-shop. Então eu fui, só como favor de amigo...
- Coitada da Bárbara, meu Deus...
- Pois é... Não queria contar, sabe... coisas de amigo, enfim...
Rafael e Ary num bar, no dia vindouro:
- Você o quê ?!
- Chapa, tive que improvisar... A Dalva nem pode imaginar que o presente na verdade era pra minha outra neguinha...
- E pra isto você precisou ferrar o meu lado ?!
- Ué, e o quê é que têm ?! Você mesmo não disse que tá querendo se separar da Bárbara. Pronto: agora você tem um bode-expiatório...
- Mas, Rafael... É que agora a situação é outra, eu já tou me entendendo com a Bá... E tem um outro inconveniente...
- Qual ?!
- É que eu dei um presente de Dia dos Namorados pra ela...
- Sim, e ?!
- Você não tá curioso pra saber o quê foi, não ?!
- Não me diga que foi uma...
- Sim, uma langerie... Sei lá, aproveitei sua ideia e quis apimentar meu lance...
- Ah, bandido !!!
E bebeu sua bebida, torcendo que a coisa não fedesse mais pro seu lado...
- Dalva, você já sabe o que vai ganhar no Dia dos Namorados ?!
- Hum... Nem faço ideia. Pra falar a verdade, eu nem sei se o Rafael vai me dar algo este ano...
- Ah, eu desconfio que ele vai dar sim, amiga...
- Ué, e por que você desconfia disto ?!
- É que eu o vi saindo ontem duma sex shop...
- Sex shop ?! O Rafael nunca foi dado disto...
- Bem, sempre tem uma primeira vez né... Talvez ela tenha lhe comprado uma langerie...
- Langerie ?! Não, não... O Rafael nunca foi dado a isto...
- Pára de falar isto, Dalva !!! Como já lhe disse, sempre se tem uma primeira vez...
- Será, amiga ?! Não... O Rafael é tão polido em sua timidez, tão sisudo em suas morais e tal...
- Moça, vai por mim... Vai que ele queira dar uma apimentada na relação... E outra: o que ele faria numa sex shop ?! Foi comprar jornal ?!
Dalva emudece por instante. A amiga insiste, temerosa:
- Dalva, você taí ainda ?!
- Hãn ?! Ah, tou sim...
- E então ?!
- Perdão, Bárbara... É que é tudo tão confuso pra mim...
- Amiga, deixa de neurose. A questão é simples: o Rafael vai te dar algo de sex shop, imagino que uma langerie...
- Mas é que é tão raro Rafael se lembrar de datas, de presentes... E quando se lembra, é sempre a mesma coisa que ele me dá: uma caixa de bombons baratos e um cartão.
- Ah, Dalva... Sei lá, este ano ele quis dar uma inovada. São quantos anos mesmo de casados ?! Doze ?!
- Quatorze. Faremos quinze anos em setembro. A mesma idade de Lígia, a minha mais velha...
- Tá bom então... Ah, o presente é pra você mesma. Ou você desconfia que ele tem uma amante ?!
Ficou com aquela pergunta na mente, ecoante como pedido de socorro numa caverna. O Rafael, daquele jeitão que só ele, com uma amante ?! Não, descogitou aquilo no imediato... Despediu-se da amiga e desligou o telefone.
Dia dos Namorados, noite. Dalva está deitada em sua cama, fingindo ler uma revista. Seu pensamento estava no presente que, até agora, não havia ganho... Logo adentra Rafael, pacote em mãos. Beija levemente a boca da esposa e diz:
- Feliz Dia dos Namorados, amor... – entrega-lhe o presente.
Ela, em êxtase:
- Ah, querido, não precisava...
E desenrolava o pacote com fervor. Mal poderia esperar pra ganhar...
- Bombons ?! Cartão ?!
- Ué, não gostou ?!
- Não, não é isto... Mas é que...
- Qué que foi, meu bem ?! – diz, beijando na nuca.
- Ah, Rafa... Sei lá... É que eu pensei que este ano você ia me dar...
- Dar o quê ?!
- Assim, sabe... Algo bem diferente, mais, mais...
- Mais ?!
- Ah, você nem faz ideia ?!
- Ideia ?! Ideia do quê ?! Não tou lhe entendendo, Dalva...
Ela se levanta da cama, já fula da vida:
- Rafael, a Bárbara me disse que te viu saindo duma sex shop dia destes... O que o senhor foi fazer por lá ?!
Rafael fica multicolor:
- Bárbara... sex o quê ?! Não tou entendendo...
- Eu que quero uma explicação aqui... A Bárbara não é dada a mentir ou ter enganos. Se ela te viu saindo duma sex shop, é porque você saiu duma sex shop. Eu só quero saber o que o senhor tava fazendo por lá... Aposto que não estava rezando, né ?!
Rafael balbucia algo, anda em círculos, como se procurando uma resposta...
- Foi a Bárbara quem viu ?! Você jura: foi ela mesma ?! Não foi ninguém que viu e contou a ela, né ?!
- Foi sim, homem... Por favor, me explique logo este quiprocó. Rafael, se você tem uma amante, se você tem uma... – não conseguia completar seu gaguejo.
- Bem, vou ter que contar mesmo né...
- Você tem mesmo uma amante, Rafael ?!
- Eu ?! Eu não, coração... Vem cá, vem... – e aproxima-se da esposa, repousando-a de leve na cama. Explana:
- Você quer realmente saber toda a verdade ?!
- Claro... – diz, choramingando.
- Bem, é difícil de dizer...
- Não, não é, Rafael... Basta você me dizer que tem uma amante e aí eu saio de sua vida, levo as crianças, vou morar com a mamãe...
- Não, eu não tenho amante, já lhe disse...
- E então ?!
- Bem, eu realmente fui numa sex shop...
- Tá vendo, eu não disse ?!
- Calma, deixa eu me explicar... Bem, eu fui na sex shop, mas não comprei presente pra amante alguma...
- Ah, Rafael, conta outra !!!
- É sério, amor... Fui na sex shop...
- E comprou uma langerie, acertei ?!
- É, foi...
- E ainda confessa, seu cafajeste... Aposto que esta sua amante deve ter uns vinte anos ou menos. Ai, maldição...
- Me escuta, Dalva... Não tem amante nenhuma, friso...
- A casa caiu, Rafael... Confessa logo, diga logo toda a verdade. Prometo suportar...
- Dalva, acredite em mim: não tenho amante nenhuma. Meu coração e meus olhos só tem atenção pruma mulher só, querida...
- Você ainda não me disse o que foi fazer numa sex shop... Se você comprou uma langerie, certamente era pra mim... Ou não, seu sacana, filho duma...
- Tá, comprei a langerie... Mas ela não era pra você...
- Pronto, assinou a confissão...
- Não era pra você e nem pra nenhuma amante minha...
- Como ?! Vai me dizer então então que você a comprou pra si mesmo ?!
- Oras, claro que não...
- E então...
Bufa no ar, esmurra a porta do armário, faz cena e diz:
- Eu a comprei pro Ary...
- Ary ?! Marido da Bárbara ?!
- Sim, ele mesmo...
- Mas pra quê ele iria...
- Ele é que tem uma amante na verdade... Uma ninfetinha, um pouco mais velha que a Lígia...
- Credo, que safado...
- Pois é... Ele queria comprar um agrado pra ela e não tinha coragem de ir numa ex-shop. Então eu fui, só como favor de amigo...
- Coitada da Bárbara, meu Deus...
- Pois é... Não queria contar, sabe... coisas de amigo, enfim...
Rafael e Ary num bar, no dia vindouro:
- Você o quê ?!
- Chapa, tive que improvisar... A Dalva nem pode imaginar que o presente na verdade era pra minha outra neguinha...
- E pra isto você precisou ferrar o meu lado ?!
- Ué, e o quê é que têm ?! Você mesmo não disse que tá querendo se separar da Bárbara. Pronto: agora você tem um bode-expiatório...
- Mas, Rafael... É que agora a situação é outra, eu já tou me entendendo com a Bá... E tem um outro inconveniente...
- Qual ?!
- É que eu dei um presente de Dia dos Namorados pra ela...
- Sim, e ?!
- Você não tá curioso pra saber o quê foi, não ?!
- Não me diga que foi uma...
- Sim, uma langerie... Sei lá, aproveitei sua ideia e quis apimentar meu lance...
- Ah, bandido !!!
E bebeu sua bebida, torcendo que a coisa não fedesse mais pro seu lado...
sábado, 2 de julho de 2011
EM TORNO DE SI MESMO
Os livros estão parados na estante.
Mas eles não estão totalmente estáticos.
As ideias giram em torno deles,
fazendo-os serelepes...
O eu-poeta também é assim:
parado, calado,
aparentemente passivo...
A diferença é que o poeta gira em torno de si mesmo;
e as ideias, como numa dança, casulam-se perenes,
fazendo-se então, serelepes.
Mas eles não estão totalmente estáticos.
As ideias giram em torno deles,
fazendo-os serelepes...
O eu-poeta também é assim:
parado, calado,
aparentemente passivo...
A diferença é que o poeta gira em torno de si mesmo;
e as ideias, como numa dança, casulam-se perenes,
fazendo-se então, serelepes.
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