quinta-feira, 14 de julho de 2011

ESTA SUA ONIPRESENÇA

O telefone não toca à dias:
é o desamor que adia
estes desarranjos que nos separam;
há dias que são assim -
você tão longe de mim
que pareço morar na Sibéria,
e você em qualquer lugar...

esta sua onipresença chega a ser devaneio,
feito areia e deserto, um mar em veraneio,
e cadê seu corpo ?!
você não está aqui ou ali,
nem cá, nem em minha casa...
está sim no meu cabelo,
no meu ar, no meu cerebelo,
no número, no úmero, no útero
no esmero dum bordar, no abordar do sol,
na passagem dos dias, no futebol,
no arrebol do ocaso, no acaso sombrio,
no arrepio de frio,
num toque de oboé...

Você está em tudo,
até no telefone mudo
ou na mudança da estação...
Você está no invisível,
na telepatia,
na tela do computador - ao me dizer bom dia;
no dia bom, no riso farto,
na treva, na trova, na prova final
você está...

só não está ao meu lado...

assim
sinto-me alado sem plumas
dia nublado, pintado em brumas
incolor, chato, num dissabor...
assim
fico num coletivo só,
sem objetivo, tino ou destino vil
pratico dolos, fico vândalo
minto mito, pinto o que não há,
entro numa esquizofrenia
que oculta minha razão,
faço tolices, infantilizo meninices
vou pra qualquer esquisitice
ao saber que você não está ao meu lado,

ou que não receberei nada em garrafas;
mendigarei nesta estafa por um recado seu,
por um ditado de seus ditames que tanto torna
meu pranto feliz, que retorna
aquela esperança do quanto posso,
do quanto vou conseguir...

mas você não está ao meu lado...

então sou apenas mais um,
sou mais um apenas,
não sou mais,
sou apenas
um.

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