sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

CONTINHO CANALHA SEM NADA DE ÚTIL POR DIZER

Podendo ser lido ao som de "Ovelha Negra" (Rita Lee, na versão original-setentona)

Com um Kafka por começar a ler e um vazio na espinha dorsal da alma, o escritor pensa nos grandes desejos de um homem: dinheiro em montante e mulheres. Ou pelo menos uma, daquelas dignas de façanhas de coelhinha da PLAYBOY. O Kafka ninguém sabe se pode esperar (afinal, este "O Processo" estacionado ao lado de seu computador um dia findará ?! Por quantos anos vive um clássico ?! E se um dia ele (o escritor) esbarrar numa ninfeta admiradora de Kafka - aliás, todos os bons autores sonham com uma garota de 15 que curta algum gênio da literatura universal, não acham ?! - ,o que dizer ?! Enrola-la num papo sobre outra coisa, tipo Sartre ou receita de biscoito ?!). Enfim, o autor deveras de aguardar pelos deleites do escriba tcheco.
Mulher e dinheiro, não nesta ordem, mas necessariamente neste destino: mulher que vem depois da grana não é sinal de bons sentimentos... ou não ?! O escritor, que não tivera tantas namoradas assim, ainda galgava pela descoberta do feminino: um clitóris, um temperamento pós-menstruação, os "sins" e "nãos" querendo ser antípodas da semântica, estas vazantes qualquer... Mulher e sua estranha e hieroglífica revelação. Já dinheiro parecia algo bem simplório de se conhecer. Cifrões, uso e valor, um pouco de Marx aqui, caderno de economia do jornal, planos econômicos... Talvez nem seja tão fácil como o pensado, contudo o escritor ainda afirma que contemplar teses sobre o capitalismo da barganha é mais traduzível que os meandros de uma ninfa de 15 que nem sei existir...
Pensando no tinto que deveria estar do seu lado, o escritor se envereda pela alucinação e pela demência real de vê-se tão nítido. A musa poderia ser a moça da padaria, alguma amiga de Orkut, a simples visão de colegiais na praça, qualquer perversão digna de açoites e castigos de padre. Queria escrever algo mais pesado que a palavra, destas coisinhas que serão citadas ad infinitum. Algo tipo frase de Faulkner, tipo Quintana, tipo Lair Ribeiro... Enfim, queria o escritor prostituir-se no tal reino da escrita, não importando quão qualidade deveras sair. Sabia q sua Beatrice só viria após a conciliação do seu ego lírico com seu lado sócio-demonstrativo...
Mas o autor, parado na corda bamba do seu cansaço de espreguiçar, resolve pela inércia de uma esperar sem cavalgar. E como um Cérbero que trucida os amaldiçoados macuinaímaco, o social grita pela frase buarquiana do "vá trabalhar, vagabundo...". Labirinto sem novelo por seguir, o escrevedor escreve sua dor e cria o casulo.
E ainda sim existirão musas e a necessidade de comer e comer...
Com um Kafka por ler e a vontade de copiar algo que fosse mais que um conto amador, o escritor finda suas veias e resolve pela morte invisível. Então o autor,na sua vaidade em totem, aporta no Olimpo e grita de lá que é um deus em preparo... A vida vai andar como num passo de sapato bicolor de malandro.
O autor ainda pensará em criar seus frankensteins de compasso e consolação. A mulher não virá (não contando vadias - estas são sub-mulheres, daquelas que ainda faltam o algo além da beleza...), o dinheiro quem sabe (toda mãe é um banco sem taxas ou cobrador a porta)...

(Inspirado num conto de Woody Allen que li na Playboy de agosto/2007 - "Alugas-se um escritor")

Agosto, 2007.

2 comentários:

Anônimo disse...

Palmas pra você. Tão leve que não parece coisa de canalha. Ora, amigo (se assim puder dizer), canalhas apenas alimentam-se apenas da beleza alheia. Como uma madame do século XXI, entretanto, devo dizer que discordo de sua posição sobre dinheiro e mulher. Mas fazer o quê? Homens...

Mateus Dourado disse...

Agradeço pelo comentário e pela discordância... Assim é q brota o conhecimento: desta soberana intriga entre opiniões...
Abraços !!!