segunda-feira, 26 de abril de 2010

TITULAR (ETHOS CASULO)

“Eu nem sequer sou poeta: vejo. Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho: O valor está ali, nos meus versos.” (Fernando Pessoa)

Quis sempre fazer música.
Fracassei –
virei poeta.

Desde de menino imaginava-me astronauta.
Fracassei –
virei poeta.

Desejei ser o mais bonito, ter a menina.
Fracassei –
virei poeta.

Fracassei – virei poeta...
virei poeta...
virei pó...

um ethos casulo.

A PORRA DO AMOR É DESGRAÇA...

um dia se ama, no outro não...
e aí a roca da vida tece outros tecidos,
uns parecidos, outros exclusivos...
vindo assim, vide incisivos
arrebatador, como dor em anestesia...

Mas aí você não é amar...
Não sou suficiente ou sustento,

então, por que insiste o amor nesta total eugenia ?!
por que o outro ?! O outro do outro ?!
por que os infernais outros, por que não eu?!

CANTIGA

minha rua,
ó deusa da minha
lua,
nua na sua
náusea,
na sua nau,
num dourado sonho:
ser nobre de sua rica e pobre plebe.

ausência
da minha deusa...

ladrilhar
minha lua,
com seus olhinhos de brilhantes,
olhos de se embriagar...

com pedrinhas, com pedrinhas...
rua sem graça, espelhos da minha mágoa...

minha rua
deusa, se esta assim fosse...

tão somente para o meu amor passar...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

VERDA

“Verde carne, tranças verdes,/com olhos de fria prata./ Verde que te quero verde...”
(Romance sonâmbulo, Federico Garcia Lorca).

Verde que te quero
ver
de
verda
de...

ver-te que
quero
verte,
de vê-la,
(in)verter ou (re)verter;
(ver)da
de ver
dádivas veredas...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

ALEGRE

lapidar palavras,
podá-las, fazendo-as
o que há de mais
alegre...

assim paro, vinagro-me...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

RESPONDAM !!!!!!!!!

nesta vida onde sigo torto,
corda bamba nas certezas do outrem;
oráculos que sempre me determinam
ser um gauche ad infinitum -
quando estarei, finalmente, certo ?

quando me ouvirão,
ou verão ourives nos meus dizeres ?
é, no entanto, Midas
apenas outras vidas,
outras vozes, outros vasos...
estaria então, nos acasos
eu, sempre cego
sempre débil, imobilizado em tudo?

decerto errante,
de certo, deserto -
perto, miragem... longe, acre aragem.

NA MINHA ROLLEYFLEX

Tim Tom
Tim Tom
Tim, som
Tom, sim
Simonal...

Bim bom
Bim bom
bom bim, no bamba, no samba, na valsinha...
na vitrolinha, na minha Rolleyflex,
na batida de João, canção de lavadeira,
subindo ladeiras e preguiças, novas dimensões...
em qualquer lugar assim...

Naná Tim
Tim Naná
Batuque, voz,
Voz, batuque, veloz, veloz...
Batucar
Nana no Tim
Na voz, Nana no Tim
Nana no Tom, Naná
no ninar, nanar
luar, mar, cantar...
na capoeira, estribeira, Minas...
Milton,
Tim Tom
Tom Tim
tontinho, tontinho
quietinho, solinho
carinho Tom, bom
matita, matita,
maldita, dita, tá bom ?!
não tá, talvez, tê, ti...

batu... bati... bater, tum-tum
no tom dum corá... coraçoar...
na batida-coração, cor... batida bandida
Tom Tim
Tim Tom
tim-tim, o tom...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

CONDIÇÕES

se não luta, estagna
se estagna, estanca...
se estanca, sangra, arde
se pára, não vai
não vai
não voa
não ai, não ar
não ara...

se não ora, horas
se orar, o céu
se cear, ao léu
se ler, entender
se tender, lado
de lá, de cá, outro lugar...

e aí se formar
firmar-se, nunca envergar
enxergar chagas e chegas,
ir, parir ideias e ideais...
certeza de ser, descer subir no rio,
assobio tocar, toca de se achar
abrigo esconder,
condor no seu pousar,
ousar sendo dádivo,
gritar ainda tácito,
ácido em êxito, doce êxodo...

se não, será então
senão um mero não,
mão sem saber fiar
ou fé sem se confiar...
mas sim, assim
tornará forma, sabiá
saberá saborear, provará e testará
irá na mira, mirará
e o que alcançar, canção será,
apenas se...