segunda-feira, 24 de agosto de 2009

TOCANDO-MIM

no banheiro
nu
imaginando-me
nuno
tocando-mim
sônia


aaaaaahhhhhhh...

quando...

triiiiiiiiimmmmm !!!

amando
no vai-e-vem
na palma da mão
vai-
e-vem
minha dama
minha daminha
minha ninha
daninha
não...
onã
oh não
oh sim
assim
não não
na mão, anseio do seio
na mente, demente, di-amante
qualquer esporro...
qualquer gozo...

quando...

“sai logo daí, menino !!!”

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O BOM LADRÃO

O bom ladrão
não rouba por mal;
ele rouba pro bem:
o coração de seu bem...

O bom ladrão
vive num eterno calvário,
pregado na sua cruz eterna, etérea
estérea, dadivosa,
maldita...
Morrerá
sem merecimentos ou orações,
sem irmãos ou corações,
sem seu bem...

O bom ladrão
pacato, apático, curvado,
sem meandros ou equilíbrios,
no fio de navalhas, cordas bambas.
Bom ladrão não se rende,
nem rende tantos milhões...
ele rouba, ele rouba
rouba por tão amar,
por amar tanto,
o bom ladrão rouba emoções ou encantos,
e por isso mesmo teve perdão;
o bom ladrão morrerá sem saber
o gosto acre das falsas conquistas,
o azedume de vencer, de ter a carne morena...
O bom ladrão, lado a lado com a Verdade e o seu oposto,
ainda teve tempo de pedir desculpas,
regojizando-as ao sagrado coração...
Nosso senhor, então, cercado de extrema unção
não definhou em lhe dar perdão,
sabendo condená-lo em chagas,
as usuras de roubar um coração.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

DES PERLES DES PLUIE (POEMINHO)

Amor,
o quanto te quero
pesa mais
que o vapor de nossos corpos,

Amor,
se eu pudesse encurtar estradas
e trazê-la para mim,
se fosse uma chuva de pérolas,
se eu fosse, se cabesse, se trouxesse
(mas eu nada...)

Ou se, por acaso, meu olho
no seu
revelasse segredos,
poeminho,
um caminho, uma viagem
ou seu lábio febril duma paixão,
recordação
num relicário,
lembranças que costuro
para grudar você em mim.

(2005)

AMOR NÃO CORRESPONDIDO ("O CARA" OU "AS CALÇADAS")

Aí o cara vai lá...
e ela diz não.

O cara insiste.
e ela diz não.

O cara faz poemas, um bolo de chocolate, planta flores...
e ela diz não.

Aí o cara compra palacetes, montanhas, países, a Lua...
e ela diz não.

Num último argumento, o cara diz que a ama.
E ela fecha os olhos, respira, sufoca, e diz não.

O cara anda pelas calçadas, desolado
e vê seu grande amor de mãos dadas
com um outro,
sem nome, sem poemas, sem palavras de amor

Não correspondido, o cara procura uma ponte...

Jogando umas pedrinhas,
Observa um novo alguém que também joga pedrinhas na água.

Aí o cara vai lá...

(2005)

VOCÊ PERENE EM MIM

Aquele meu coração
que um dia você visitou
não é mais o mesmo não...

Ele agora (racionalmente)
Bate, bate, bate...

Bate na sintonia
na sinfonia da voz
que me acalanta
encanta,
me sustenta e nutre.

Você, eterna estrela,
- um brilho ! -
somente a brevidade das estrelas
para mostrar
você perene em mim

Aquele meu coração
é sangue
é você,
meu sangue, meu fel,
aquele coração
meu pobre coração roxo e mendigável,

aquele coração que desenhei em papel,
antes, árvore, canivete
cavalete, cimento
é o coração que bate antes de sofrer.

(2005)

AS VACAS

Obrando pelos campos,
doces vacas dum poema bucólico...

Estaria lá
eu
e Marília de Dirceu ?!

Colho cerejas duma moita qualquer.
a aurora bate em nossos rostos,
Aurora...

Ariadne, minha Ariadne,
Uma Ismália a voar

São doces ninfas
e vacas a pastar.

São ninfas belas
e vacas a pastar no campo verde de Garcia Lorca !

(2005)

OS POVOADOS (CAMINHOS SECOS)

Pelo asfalto que corta
o caminho seco,
atravesso, numa velha Caravan
eu e um grupo de velhas

velhas pessoas
velhas idéias
velhas pernas que me apertam,

Atravesso caminhos,
caminho por um mundo que teimava em seguir

busco me procurar...

Os povoados há povos
gente de semblante velho,
da boca seca,
da lembrança velha,
das rugas precoces, do trabalho braçal...

Os povoados guardam esperança
O silêncio
ronda
as rodas dos caminhões,
são os veículos da vida,
aquilo que transforma o povoado
num lugar ao menos alegre...

E eu, numa velha Caravan de transporte
pensei enquanto triste
no qual triste sou.
A vida deu-me um abraço
e os meses, uma mínima concepção de ser.

(2005)

AMOR EM METONÍMIA

Hoje,um pouco de mim foi jogado às cinzas
como se algo vingativo toma-se meu corpo
e fizesse ver,
o quão podre é meu corpo, meu corpo
o meu desejo por você...
Hoje,seu corpo é de outro,
sua boca é de outro
quem sabe até sua alma foi aprisionada
por um demônio qualquer,
Hoje você morreu devagar, não quis lhe ver
Hoje era o dia que eu
queria me esquecer.

(2005)

LINDOS OLHOS DE MENINA

Tão lindos
olhos de menina,
cor de mel, pequenas pupilas que cintilam
Lindos
olhos de menina travessa.

Por que não sei
domar este coração ?
Será que entre eu e ela
há diferenças, idades ?

Lindos olhos infantis, meigos
criados e delineados,
olhinhos que procuram fadas e fantasmas...

Minha garotinha,
meu dengo e meu afago,
apego
apago meus olhos,
pago caro por estes olhinhos...

Linda, dei-me a compaixão destes seus olhos !
Por mais que sua inocência pareça gelo
e meu zelo, a anti-ética massacrante...
Olhos de candeia,
teia tenaz,
não paro de olhar-ti.

(2005)

DIA

Todo dia é um dia pleno,
todo dia, planos
o dia todo, sereno
noutros dias serei de pano...

Algum dia serei menino,
Um dia soará meu hino
Dia-a-dia, operário
Fim do dia, um salário

A mais, a menos
ao menos, um dia a mais
Deus deu-me,
Deus criou-me
no berço de ouro pobre.

Dia, noite, tarde...
nunca é tarde,
tarde demais, nunca !
O dia é vários dias num dia só...

Encaixo-me nas possibilidades.

(2005)

PAPEL DE CARTA

Linda,
passeava nua pelos bosques dentro de mim,
extremamente solta,
cabelos que encobriam os tornozelos.

Colecionava papel de carta
num classificador negro de tantas vidas,
sentia frios e calafrios,
emanava esperanças na sua úmida voz.

E o tempo passou. Eu durmia nas redes do seu vestido vermelho.

Menininha, minha
Meu bem, nada além
Um mar, conchas na areia onde seu pé gravou-se
(eterna marca de seu pé),
Garota do amor perfeito,
em flor,
perdi-me naquela carne, feito Vinicius...

A sensualidade, onde ?
A paixão, viva !
Seu nobre coração invadido :
È Ramon, È Elias, quem seria ?!
Suspiros sobre a cabeça da boneca,
estranhos comichões,
choro aguado no travesseiro.

Perdeu a trança, abandonou os hábitos
recusou o colo do pai,
virou sereia, virou algo...

Cadê você hoje em dia ?
Esquece de esquecer que o sol é apenas um astro
e não mais um outro dia ?
Perseguindo borboletas, assobiando para passarinhos...
Subjulgando minha racionalidade, pra quê ?

(2005)

CHEIRO DE CHUVA

Chove na cidade.
A cidade se molha das águas,
o povo festeja,
o valor da chuva...

Chove lágrimas do rosto cheio de rugas e feridas.

Cheiro da terra molhada,
cheiro de chuva invade a casa cheia de gente,
todo mundo se assusta - fantasmas, flores, risos.

Chove na cidade.
A esperança se banha do aroma,
o sertanejo se banha de esperanças,
simplesmente a música canta folhas orvalhadas.

(2005)