quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

TALVEZ AMANHÃ

Como estará eu amanhã ?
Talvez numa roda de samba
ou na tal ciranda da vida...
Talvez amanhã
estarei nas manhas
dum afago que assanha,
entre mil mãos a afagar...

Talvez amanhã
eu me segure e não caia,
talvez me fure e descompassa,
talvez este amanhã não passa,
talvez ele será apenas um ontem,
dum hoje...
O amanhã talvez até vire a burocracia de um dia,
semióticas dum calendário
que prenda diários e lunários,
que apreende meu amanhã,
que me faça ver que não é mais carnaval...

Talvez, amanhã, o poeta dance como deus
e descanse à meio-fio, galopando estrelas...
talvez ele descubra as luzes das palavras
que não sabe ler ou compreender
talvez ele rime e te faça um acasalamento,
talvez ele apenas mire e, num aceno, me estende a mão.

Talvez, poeta, o amanhã não usurpe materialismo, dialéticas
ou qualquer metáfora irmã...
talvez ele nem tempere as interperes
dum caso ao acaso,
talvez a queda tenha sido a contra-dança da beleza
ou a renegação dum estragema,

Talvez poeta...
Talvez amanhã...
talvez meu verbo não precise conjugar,
talvez seu devir, tempo, venha e me faça
ver, com olhos de espelhos
enxergar, muito além de um coração.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

JUVENIL

Onde a juventude sem dimensão
antecede noites e tempestades,
trazendo contigo
o bálsamo-fogo
do istante feliz
lascivo
voluptuoso...
Como se a ira do dragão
no momento turvo,
vivo e o tempo,
somente consigo,
beijam-se na compainha siamesa
dos corpos;
luz, luz
luz de minha mocidade !
trazei em mim
a criança imaculada,
buscai nos umbrais do meu ego hostil,
mil demônios
que autofagem passagens cegas
e concretas, insanas
o dorso-ilha
o id-continente
fincado
na hora que o trio anuncia
(docemente)
as trovas em liras
dos pecados que teremos...
e abençoamos num triz !!!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

PARANÓIA/MISTIFICAÇÃO

Pra se ler ao som de “Sprout and the Bean” (Joanna Newson), a coisa mais surreal que ouço no momento...

Felipe comprou um carro – Van Gogh cortou uma das orelhas.
Elvira comprou mais um carro – Nietzsche morreu num manicômio.
Luís usa belos ternos – Picasso pintava realidades em cubos.
Indira comprou outro carro – Napoleão queria ter o mundo.
Pacífico leiloou algumas de suas ilhas – Nero, tocando harpa, ateou fogo em Roma.
Rita comprou um carro importado – Kerouac tinha esquizofrenia.

Fran ganhou diplomas...
E Josef Hassid foi lobomotizado,
morreu jovem, ninguém o ouviu...
(este tocando o “Humoreske Op.101 nº 7”, de Dvorak...)

Adão tinha uma namorada
e mais outra
uma não sabia da outra;
então ele tinha mais outra...
e mais uma...
uma, duas, três namoradas...
Nenhuma delas ouviu falar em Nise da Silveira.

Talvez nem eu...

Paranóia ou Mistificação ?!

(Freud, Lacan, Foucault...)

E Aladin devora lagostas e caviar num caro restaurante...

Eu, então, envolcro num manto feito por Bispo de Rosário,
capa cor de estrela, cheiro de mar,
do lilás da violeta, do ânis anil do suicídio...

escondendo-se em qualquer loucura
buscando minha chaga, ferida, corte-cura
talhando a própria cicatriz que risca meu mapa, meu corpo...
nunca, nunca me entregando às garras do comum instituído
jamais sendo absorvido por sistemas, anátema ou silogismo-pragmático

quero a insana que asanha e roça a boca perene !!!!

não ambiciono jamais a roupa nova que me fará gente,
quero sim a indulgência que me fará vil, me fará rei !
quero o par de asas ou o alado cavalo que me fará voar
na “new canción de Mutantes”,
quero, calado, a majestade magnífica de ser o que sou...
sem Deus ou prognósticos,
sem tratados que destratam,
sem a imposição do normal...
não quero vencer num mundo em que todos vencem
e muitos perdem,
num mundo onde a fome prevalece ao tal amor-outrem
não quero que meu ontem seja apenas nostálgico e distantes,
antes que o futuro não venham,
que não covenha um mundo de loucura patológica...

Quero esta maluquice de ser esquisito,
de mostrar minha língua e ver curvas no universo
quero a pequenez de saber-se gigante
mesmo encolhido, mesmo frágil, mesmo cristal...
e poder ter poderes de poder,
destroçar quaisquer parede que impeçam,
ir quando o vento diz o contrário,
ser a pedra que separa o rio,
ainda que sendo cocégas no grande ato capital:

não quero a obrigatoriedade do ser !!!!