domingo, 30 de setembro de 2007

HORÁRIO DO CAFEZINHO

As duas na repartição, horário do cafezinho: uma paradoxal a outra – a mais jovem, recatada, cabelo preso em coque, vestido longo e longe de qualquer devassidão, nenhuma maquilagem, casada. A mais velha, fogosa, vestido com fortes estampas de frutas tropicais, farto decote e colônia barata, casada e com amante. E deste era que, na exata conversa, a mais velha declarava vantagens:
“Ontem de noite meu boyzinho me fez chegar às nuvens...”
A mais nova (de nome Odeth) não gostava de ouvir tais histórias, mas por educação (ou por ser tão recatada), não a recriminava e ouvia com paciência. A mais velha (popularmente chamada de Zizi) continuava:
“Era umas posições que eu nunca imaginei que existissem... Ah, muito acima de qualquer papai-e-mamãe da vida...”, dizia entre suspiros e um constante limpar no colo do decote.
Odeth apenas pega o adoçante e o adiciona (quatro gotas, nada mais) no copo de plástico, quase a metade de café.
“Seu marido já quis te chupar ?!”, perguntou Zizi.
A mais nova quase cuspiu o café de volta. Respirou fundo e perguntou:
“Como ?!”
“Seu marido... ele já quis...”, e fala baixinho, “...lhe chupar ?!”
“Bem...”, não sabia o que responder diante tamanha devassidão.
“Tu não sabe o que tá perdendo...”
“Meu marido é homem de bem, de Jesus. A gente não faz estas...”, pensou em palavra feia. Logo se censurou:
“...estas devassidões, pecado mortal da carne !”
Zizi exagera nas colheradas de açúcar. Nunca ligara para suas taxas de diabetes.
“Pecado ou não, o que sei é que é bom pra cacete !”, disse.
Odeth deixara de ruboriza-se com o palavrear da colega de trabalho. Contudo torcia para que sua transferência de setor acontecesse logo. Casara há pouco tempo. O marido era filho do pastor do templo que iam todas as quintas e domingos. Eram jovens, o marido mal completara 24 e estudava Teologia numa faculdade particular - bancado pela família.
“Meu boyzinho me pegou pelo cabelo assim, sabe, tipo Neandertal...”, diz Zizi.
“Acho que já tá na hora da gente voltar pro escritório, né ?!”
“Qualé, Deth...”, sempre a chamava assim, ocultando a vogal inicial do nome. Prossegue:
“Relaxa, ainda temos uns minutinhos...”. Zizi tinha 43, mas sempre mentia a idade. Casou-se cedo (e com o primeiro namorado) e teve três filhos. Detestava o marido e sempre que possível o traia. Agora se vangloriava de ter um caso extraconjugal com um garoto de vinte e poucos... Detestava tanto seu nome original (Zilmar) que exigiu (e conseguiu) mudar seu nome no crachá da repartição.
“Uma boa chupada no grelo leva uma mulher as alturas !!!”, diz a mais velha quase em grito e risadas.
“Eu vou voltar pro escritório e...”

Odeth dormiu com aquela conversa na cabeça. O marido demorava em chegar. Aliás, nos últimos meses assim era: ele chegava muito depois das onze, se trocava, tomava uma ducha, vestia pijama e dormia. Há tempos não a procurava. No começo ele respeitava tal ritual: como uma boa cristã que era, aceitava e entendia que o serviço do marido era deveras pesado. Mas aquelas palavras da Zizi não saia de sua mente. “Nunca fui chupada... Nunca fui chupada...”, pensou alto. Recriminou-se num tom de voz bem baixo, dando pequenas palmadinhas na boca. Pegou a Bíblia que sempre ficava em cima da escrivaninha e leu o último versículo que fora trabalhado em sermão pelo pastor. A cabeça não se distraia, então folheou o sagrado livro, parou no Cântico dos Cânticos de Salomão: “Beija-me com os beijos de tua boca; porque melhor é o teu amor do que o vinho...”. Parou e olhou pro teto. Deu uma respirada, olhou para o relógio, dez para onze. Voltou à leitura para algum outro versículo do mesmo Livro: “Eu sou um muro, e os seios, como as suas torres...”. A palavra “seios” deixou-lhe estranhamente excitada. Retornou a Bíblia ao seu lugar de praxe e levantou-se. Olhou-se de corpo inteiro no espelho. “Sou bonita, mas nunca fui chupada...”, indagou. Logo concluiria: “A decrépita da Zizi é bem mais amada que eu...”. Então se dirigiu ao banheiro e lá se despiu. Entrou no box, deixou-se inundar o corpo da água morna. Maculou-se, ineditamente, por uma masturbação natural, sem racionalismos ou a moral, tocava seus seios com uma volúpia escondida, curiosidade infantil, ar de menina, de mulher. Os dedos circulavam pelos mamilos enrijecidos, nunca sentira prazer igual. E numa hipnótica prece, dizia “Nunca fui chupada, nunca fui chupada, quero ser chupada...”. Logo caíra em si. Então se limpou da vergonha e enxugou-se da água.
Já vestida de sua camisola composta e adornada de florzinhas singelas, deitada em seu cobertor, viu no despertador da escrivaninha o horário em que o marido chegara: onze e onze. Sorrateiramente sentou-se na cama, tirou os sapatos, desafogou a gravata, desabotou a camisa. Levantou-se, dirigiu-se ao banheiro, demorou uns dez ou quinze minutos. O barulho da descarga fez Odeth rezar pelos pecados cometidos no mesmo espaço em que o vaso se encontrara. O homem chega, levanta a coberta e adentra-se ao leito. Odeth finge acordar:
“Miquéias... Chegou tarde meu bem...”
O marido beija-lhe a testa dizendo:
“O trabalho, a faculdade, tudo amor...”, e vira-se pro lado desejando boa noite.
“Miquéias...”, chama novamente a mulher.
Miquéias apenas grunhe.
“Sabe...”, prossegue a esposa, “...Eu tô usando aquele perfume que você adora. Cê percebeu ?!”, insiste Odeth, passando seu mindinho por entre os caracóis capilar do marido.
“Hum, hã ?! Ah é ?! Poxa, que bom... Mas agora me deixa dormir Odeth... Tou cansado...”
Odeth ainda beija-lhe a face barbada por fazer, o pescoço... Ali percebera uma marca roxa não antes existente. Não quis questionar o motivo daquilo. Ainda olhando para o marido por dormir, pensou no tempo em que não faziam amor. Pensou na mancha quase hematoma no pescoço do cônjuge, pensou que ainda não fora chupada... Virou-se para seu canto de descanso e lá adormeceu.

Odeth adiantara seu horário do cafezinho. Esperava por Zizi, que não tardara em chegar.
“Zizi...”
“Oi Deth !”
“Posso lhe perguntar uma coisinha ?!”
“Evidente... Por favor, me passe o açúcar...”
Odeth lhe passa o recipiente. Depois pinga as mesmas quatro gotas de adoçante no seu já frio café.
“Sabe...”
“Pode dizer...”, e Zizi põe a boca na borda do copo, antes lhe soprando o interior.
“Você ontem se encontrou com seu...”
“Com meu boyzinho ?!”
“É...”
“Sim.”
“E que horas foi ?!!”
“Hum... porque este assunto assim agora ?!”
“Sei lá...Curiosidade...”
“Acho que foi por entre as oito, nove...”
“E vocês se encontram aonde mesmo ?!”
“Num motel na Lapa...”
“Certo, certo... Quantos anos o seu boyzinho ?”
“Não sei ao certo... Creio que tem a sua idade. 24 ?!”
“É...”
Odeth (mais corada que tudo) bebe rapidamente o resto de café no copo. Olhando pra Zizi, pergunta:
“A última: creio que você nunca me disse o nome do seu amante, né ?!”
“Não, nunca disse... Mas nunca falei porque nem eu sabia qual era. Ele usava um apelido. Mas ontem, enquanto ele tirava um cochilo, eu verifiquei no RG dele... O nome dele é Miquéias... Miquéias dos Santos...”
Odeth não queria escutar o nome que ela já desconfiara. Disfarçou o abobalhamento, a consternação, a autoflagelação, a raiva. Abriu a boca discretamente, fingiu tossir e agradeceu as informações. Quando Zizi já se virava na direção oposta à cafeteira, Odeth aborda-a em sopetão
“Perdão, Zizi... Posso lhe perguntar só mais uma coisa ?!”
“Claro...”
“Ontem ele te... bem...”
“Ele o quê ?!”
“Ele...”, e deixou que se fizesse voz aquela ordem de seu inconsciente, “...te chupou ?!”
Zizi riu e respondeu:
“Divinamente...”
Odeth deixou Zizi sumir por entre o corredor e somente rezou um Pai-nosso.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

A NOTA TRISTE

Para Carol, in memoriam

A nota triste
que a estrela tocou, à noite
com sua cítara dourada
cheia de acordes que acordou o sono,
e me fez lembrar que seu cobertor não estava mais lá...
Contudo fez-me vê-la coberta de flores,
onde encontrava-se uma tiara mágica,
destas que mostravam seu rosto no espelho do rio;
seu sorriso que não esqueço
e sua presença que acalentou a primavera.

A coisa triste então tornou-se um suspiro,
e no lugar da tristeza se via uma borboleta
que, confundida com o azul do céu,
chorou - tão tola - sua ausência discreta.
Não sabia que você ainda nem acordara,
e amanhã seria mais uma estrela,
desta que nos protegem quando pedimos um desejo,
desta que se faz presente quando sua mão não te alcança...

terça-feira, 25 de setembro de 2007

LINDO POEMA LIDO (ESTA VONTADE DE DIZER “TE AMO”)

Embasbacado do teu amor,
Torrenciais palavras nesgas
Negas a mim, oh borboleta bárbara !
Salivas lascivas denunciam nada...

Pardo instante da escuridão sem fim,
Eu califado pela força de sua exegese.
Intumescido pela prosaica de seu dialeto fantasma,
Agacho-me ao teu trono, diáfana flor da margem-rio...

Se mesmo assim, ainda cálida
Teu palco, asco de sua sublimação
Eternidade breve para exercer teu amor suspenso...

Mil liras míticas,
Verbo doce da carne e orvalho,
Vinde a mim, segredo em concha num peito nínfico...

São ditos, nunca mitos
Esta vontade de dizer “te amo”
Escombros e sombras que restam de mim...

E então foges,
Corres por bosques élficos
Buscas um acalanto para dizer-se teu
Acabas comigo aos poucos, lentamente como sopro
E sofro os adeuses em acenos
Tomo do mais emblemático arsênico,
Desjejuo desta combinação que te afastas de mim.

ESQUADRILHA DE CATETOS E HIPOTENUSAS

pra Higão

Não quero concursos
quero o curso
que o rio da vida pode me levar:
às margens de tudo,
na serena-idade dos tempos...

Nobre lembrança do a-manhã
sensação de nada
sanção do som
esquadrilha de catetos e hipotenunas.
Numa brisa sem chão,
brasa sem cão
ou pisar/pousar
ou loucura dádiva
ouro
urro
basta -
é bastante
e distante
um tanto eloqüente
a língua que me roça
roçado
em que des-campo
e me beija,
como um co(r)po cheio
de meios e arrados.

A NOITE DO POETA

“Poeta ?!”
“É, poeta...”
“Poeta-poeta ?!”
“Sim, poeta-poeta...”
“No duro ?!”
“É...”
“Então declama um poema pra mim...”
Este era o mal de declarar-se poeta: sempre te pedem declamação, parecia uma prova. Ela era amorenada, linda, jovem. Estávamos num museu, ela tomando sorvete e eu louco por um cigarro.
Respirei e então soltei:
“ “Ora (direi) ouvir estrelas ! Certo
Perdeste o sendo!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro janelas, pálido de espanto... ”
Ela não pestanejou. Não percebera que os versos não eram meus, mas sim de Bilac.
“Lindo !”, disse.
Agradeci. Estávamos diante um quadro de Magritte, As boas relações.
“Nossa, que quadro complicado ! Você bem que poderia interpreta-lo pra mim, né ?!”
E o quê eu iria dizer a ela ?! “Oh, aí é um quadro onde eu vejo um olho, um balão, um nariz, uma boca, ambos em harmonia tal que nos representa um rosto e blá-blá-blá...” ?!
“Sim, mas por quê você acha que eu sou a pessoa mais indicada pra lhe explicar este quadro ?”, perguntei.
“Sei lá... Você não é poeta ?! Pois então. Poeta tem mais sensibilidade pra estas coisas...”, respondeu enquanto trançava levemente o cabelo com o mindinho.
Novamente aquela coisa da incumbência do poeta. Tinha que pensar bem no que dizer. Afinal eu queria agradar a gatinha...
“Bem, Magritte quis mostrar... Olha.... Sei lá.... Peraí...”
A garota tinha um olhar de esperança, um olhar que demonstrava a espera de uma boa resposta... Nada de mais poderia acrescentar a uma idéia comum. Via apenas um quadro com suas composições surreais, metafísicas, qualquer palavrinha complexa e eloqüente que possa explicar esta aberração de pensamento agora...
“E então ?!”, pergunta a garota – garota sim, seus primaveris 16, 17, no máximo 18 anos...
“Topas uma bebidinha ?!”, pergunto aflito.
“Eu não bebo...”, numa voz dengosa.
“Bem... Eu te pago qualquer coisa. Vamos ?!”
Ela acabou aceitando e eu dei graças aos céus por ter saído daquele museu. Entramos no primeiro barzinho que encontramos. Puxo a cadeira e ela se senta. Logo também me sento e chamo o garçom.
“Você bebe o quê ?!”, pergunto a ela.
“Hummm... Um refri, pode ser ?!”
Adorei o jeito mimoso como ela pediu. Claro que concedi e peço, além do refrigerante, uma cerveja estupidamente gelada. E um cinzeiro também...
“Cê se importa ?!”, indago delicadamente a moça.
Ela diz que não com a cabeça e logo eu tiro um cigarro do maço. Surpreendo-me porque no bar rola um Stevie Wonder das antigas.
“É raro num bar rolar um sonzinho destes, né ?!”, pergunto.
Ela concorda com a cabeça.
“Stevie Wonder...”, explico, “...Boogie On Reggae Woman”
E a gata faz um “ahhhhh” bem prolongado, parecendo não saber que patavinas eu estava falando.
“Perdão mas eu não perguntei seu nome...”
“Moai...”
“Moai ?!”
“É. Que nem aquelas estátuas da Ilha de Páscoa...”
Não sabia que aquelas estátuas da Ilha de Páscoa se chamavam moais. Achei charmoso um nome destes, bem exótico, assim como ela própria em carne.
“E o seu ?!”, ela pergunta.
“Encantado... Damasceno.”
“É bem nome de poeta mesmo...”
Lá vinha ela com este assunto e o garçom com nossos pedidos. Pergunta, depois, se queremos algo para comer, o que recuso. Estaca duro, só tinha grana pra esta e mais uma...
“Você já publicou algum poema seu ?!”, insiste a garota.
Engasgo, tento brindar com os copos, dou o primeiro gole e logo respondo:
“Bem...eu já publiquei um poema meu num pasquim dos meus tempos de faculdade...”, minto.
“Legal...”
Ela sorri e bebe um pouco do copo com refrigerante. Tinha dedos delicados, unhas bem tratadas, dentição perfeita, certamente a garota mais linda que já tive um mínimo de contato. Fazia frio e céu nublou-se duma hora para outra. Moai esfrega suas pequenas mãos uma na outra. Ela devia ser daquelas que tem piercing no umbigo. Me contive e não perguntei isto...
“Você freqüenta sempre este museu ?!”
“Eu ?! Sempre, sempre...”, minto novamente.
“Estranho nunca ter lhe visto. Eu trabalho aqui perto e sempre que posso venho ver os quadros em exposição. Adoro pinturas...”
Ela trabalha ! Uma vantagem em relação a mim: estar desempregado é foda numa hora destas...
“Já trabalha ?! E você faz o quê ?!”
Ela ri. Logo diz:
“Desculpe o riso. É que você disse um “já” assim... Poxa, tenho 22...”
“22...jura ?! Pois parece bem menos...”
Ela ri novamente. Como é bom vê-la sorrir desta maneira...
“É sério. Te daria uns 17 na lata...”
“Já ganhei o dia hoje viu...Pois é, tenho 22 e trabalho na pet shop ali da esquina...”
“Poxa...”
“Pois é... adoro animais e aí, né... dá um dinheirinho bom... e ajuda a pagar minha faculdade...”
Adorei este acanhamento para mencionar sobre seu atual ofício.
“E você, trabalha no quê ?!”
Aí ferrou ! O quê argumentar ?! Dizer que não trabalho, que vivo do que mamãe dá, que sou um preguiçoso nato, que tenho um diploma de graduação fudido e que não me garante estabilidade profissional ?! Deveria pensar no que responder... No ar um classicão do Stevie: My Cherie Amour.
“Baladinha massa, né ?!”, ela me diz.
Concordo como disfarce para a questão antes mencionada:
“Bem legal mesmo... O Stevie Wonder jovem é escroto pra caralho !!!”
Terminei o argumento e pensei no quão chulo foi ao empregar tal vocabulário. O que pensaria ?! Talvez que eu escreva poesia marginal, hip-hop ou coisa do gênero...
“Sim, perguntei onde você trabalha né...”
Moai retorna ao assunto. Gélido, pego o copo da morna cerveja.
“Que tolice a minha perguntar isto, né ?!”, diz, “Você é poeta, né ?! Deve viver de suas palavras... Aposto que você escreve nalgum jornal...”
Não quis desmentir. Então só confirmei com um balançar de ombros. O pecado de mentir deve ser menor se não as dizemos, não é ?! Pergunto se ela deseja mais alguma coisa (torcendo para que sua resposta fosse negativa). A garota diz que não e até paga a parte dela.
“Mas não precisava... Eu ia pagar...”, digo, com a lama aliviada e o bolso com uns trocados a mais pro buzão.
“Qualé, poeta ?! Direitos iguais: se eu consumi, eu pago !”
Independência feminina, vá se entender... Ela se levanta e diz que tem que ir embora.
“Poxa, mas por que assim ?!”, tento convencê-la do contrário.
“Não dá, infelizmente... Tenho uma prova cavernosa amanhã. Aproveito o curto tempo pra estudar...”
Entendi. Não se podia concorrer com uma prova de faculdade. Me levantei e dei os cumprimentos de despedida.
“Adorei te conhecer, Damasceno...”
“Eu também, Moai...”
“Toma aqui me número de telefone. Vê se me faz uma poesia e depois me entrega, tá ?!”
Peguei o papel e agradeci, prometendo fazer o poema o mais rápido possível...
“Faz um bem bonito, que nem aquele que você me recitou lá no museu...”
E saiu dando acenando. Ainda distante, lá do ponto de ônibus, deu uma duas olhadas antes de pegar sua condução e ir. Confesso que cheirei o papel, na esperança de ali ainda conservar um pouco do seu perfume. E não foi em vão: conservara um pouco daquele cheiro peculiar, um aroma agradável, uma delícia de mulher... Findei meu débito com o bar, elogiei a qualidade musical do ambiente e sai. Caminhei e observei cada paralelepípedo da rua, as rachaduras das calçadas, pequenos lixos encravados no local... Assobiei uma canção do qual nem lembrara mais, olhei mais uma vez a grafia dos números de Moai, o nublado do céu fez-se uma rala garoa. Ainda me abriguei noutro boteco encontrado e lá pedi uma dose de algo bem forte para combater o frio e animar. Bebi-o de uma só vez, olhei para uma morena vesga (que correspondeu ao olhar), olhei a noite do poeta onde boêmios e trovadores exorcizavam seus demônios cotidianos, pequenos operários que por um momento giganteavam sua ínfima existência no dorso cálido de uma puta qualquer... Percebi o quanto de mundo havia em mim e o quanto de mim correspondia ao tudo universal. Quis chorar diante de tal constatação, o precipitar terminou enquanto um senhor de arcada dentária falha cantarolava algo de Paulinho da Viola das antigas. Então esmiucei cantar o refrão e segui...

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Textículo inicial...

Ao som de "Maggot brain" (Funkadelic)

Ponho ao ar um link de poemas como alternativo ao já conhecido (ou totalmente desconhecido) "O Borrão" - que vem apresentando uma série de problemas que estão me atormentando o juízo... Pois bem, abro aqui "A Noite do Poeta". E o por que do título ?! Bem, primeiro é que este titula um conto meu totalmente inacabado (e que prometo acabá-lo), depois é que eu achei sonoro e ilustra bem dois alicerce de minha mediana vida: a noite e o poema. Sou da noite, assim como sou da poesia. São duas coisas inertes e indissoluvéis em mim. A noite é "o" poeta dos hemisférios que chamamos de hoje, presente, atual, sei-lá-o-quê... A noite tem a lua, as estrelas, os postes acesos, os boêmios, os violeiros, os casais de namorados, a arte de se fazer, criar, cultivar ou terminar amor... A poesia é o enfeite do real, é minha expressão, minha voz, meu jeito mais cálido e calado de manisfestar minha existência. Enfim, aqui exponho "A Noite do Poeta"...
E o quê esperar deste infímo blog ?! Bem, basicamente o mesmo que se via no outro site - colocarei aqui neus poemas, meus contos, minhas idéias ( ou as dos outros, de bons amigos, sei lá...). Contudo sempre do novo se espera algo mais, não acham ?! Pois é, aqui também espero isto: como este ser camaleônico que somos, também sofro minhas mutações cotidianas e aqui será o reflexo disto. Nunca sou o mesmo e assim pretendo ser/não ser pelo resto de minha vida lírica-artística-humana... Então creio abrir uma nova fase nos meus borrões artísticos, aqui quero poder mostrar a vocês, caros e futuros frequentadores/leitores/observadores, apenas mais uma visão de mundo ou de ilusões...
Para os críticos e para os lisonjeadores, meus mais siceros cumprimentos black...