sábado, 19 de dezembro de 2009

PRA QUÊ ?!

Pra calar a boca
Pra escalar Maomés
Pra colar no caderno
Pra servir de adorno
Pra sorver aquela Coca
Pra dissolver a tinta
Pra devolver em dobro
Pra dobrar entorno
Pra torna-se anjo
Pra esbanjar banjos
Pra manjar dos deuses
Pra endeusar você...
Pra partilhar partituras
Pra aturar suas loucuras
Pra deglutir coisas futuras
Pro ar encenar
Pro arsênico
Pra embebedar e amar,
Pra estrela-mar...
Pra provocar
Pra ética
Pra arte
Pro ártico
Pro prático
Pra praticar
Pra atiçar
Pra patinar
Pra papinha
Pro papinho
Pro menino, a menina.

Pro viver
Pro prazer
Pro lazer
Pro fazer
Pro querer...
Pra quê ?!

HAIKAI PARA CARTIER-BRESSON

no espelho, imagem do não sou;
na retina, um olhar côncavo.
na foto, moto-contínuo.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

ALÉM DO TOM

Em audição, o “Todos os olhos” (Tom Zé).

E o Caos
transformou a matéria
em cacos...

E o Caos
transformou a estrela
em passar tempo....

E o Caos
transformou a visão
em rugas,

E o Caos
transformou o destino
em desatino,

E o Caos
transformou o dentro de si
em ser bailarina...

E o Caos
transformou a voz
em vez.

E o Caos
transformou a foz
em mar,

E o Caos
transformou o credo
em cruz.

E o Caos
transformou o adeus
em deuses...

E o Caos
transformou o amor
em cio,

E o Caos
transformou o vazio
em transformação,

E o Caos
transformou Lavoisier
em cria.

E só, tão somente o Caos
transforma o além do tom
em lira cantante,
assobio dissonante,
o ruído, barulhar...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

APROVEITANDO A CHUVA QUE CAÍ

Não sei o que vou escrever,
se vai sair meus pensamentos ou enfeites do meu ego,
Chove. Muita água, mágoas internas,
ferida magoada, um defumador de espasmos
um gato só, sem sorrisos ou Alice...

Aproveitando a chuva que caí,
abóboras jamais viraram carruagens,
minha vida é junção de coragens,
a colcha de retalhos do que fui e sou:
O hoje está no projeto do ontem e do amanhã.

(2006)

SÁBADO, VENDO CASABLANCA

Teremos Paris, sempre, como Bogart e Bergman.
Amaremos em branco e preto, assim como Bogart e Bergman.
Tocaremos “As Time Goes By”, ao piano, como Bogart e Bergman.
como Bogart e Bergman...
como Bogart e Bergman...

Estar sozinho, vendo Bogart e Bergman...
Sentir-se mais só, com Bogart e Bergman...
Querer estar contigo, Bogart e Bergman...
E vendo, apenas cristalino, na TV...
Bogart e Bergman.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

MATEMATIÇAR

1 amor
2 amar
1 e 2
2 em 1
em 1
no 1;
sendo 2
2 sendo 1
em 2
1 amar
2 amares...

1 e 1
1 no 1
maior que todos:
2 em 1 > estar só

2 > ser só...

ou
sendo tão <
menor que tudo,
sem você, assim
um 0, um zero-zero, zero...

no ∞ então...
matematiçar
matem(atiçar)
ma(tem)atiçar
amar atiçar, ter-te
tem 1, eternamente um, 2 mãos intercaladas...
2 bocas caladas num beijo...
beijos ∞ num amar ∞
1 e 2
2 num 1
1 ∞ par

NA DELA

Ela, tão na dela
e eu sou tão dela
que talvez ela nem saiba,
quiçá eu não sabia
que dia todo, todo o dia
o amor que ela assobia
também era o sopro meu...

e através dela
eu atravessava passarelas,
ou nunca então me atrevesse
a ir atrás de quaisquer aquarelas
buscando-a, simplesmente buscando-a...

ela, na dela
naquela
de não ir em qualquer onda,
ou ronda, ou sonda sonar...
Sondando penumbras e sombras
hipnótica entre bombas,
não audível aos sons de minhas cantigas,
o que buscas, doce Beatrice,
assim tão triste, entre trastes e contraste,
nestes infernos tão sofridos e distantes ?

eu na dela,
tão dela,
na dela, tão eu
tanto de mim, o quanto assim
na dela,
querendo estar também na sua tela...
e tê-la
tê-la...

terça-feira, 24 de novembro de 2009

SENÃO AMAR

"Que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?" (Carlos Drummond de Andrade)

Quem poderá
em desvario,
num júbilo pueril
de corar-se juvenil,
coroar-se tão paulatinamente ao amor ?

Deverá, então,
atrás do querer, renegar
desfiando qualquer auto-ética
dando-se, tão cética, a desafiar autêntica,
esta timidez ao vê-lo ?

Ao amor, velar
deixar-se pelo cândido mar,
assim, em sobressalto,
tomar-se de assalto
em ver a coisa desejada, então fugir
desviando do que se quer,
escondendo-se na vontade, ungir
venerar o amado ser,
querendo-o, não tendo, retraindo-se...

29 MÚSCULOS, 400 BACTÉRIAS...

Não sou dado
a beijos
mal dados,
mal fadados,
bem fardados,
fartos de carinhos e tratos...
de cheiros ou tatos...
beijos descuidados, beijos traídos
beijos fraternos, sinceros, gratuitos...
beijos aos montes ou aos muitos,
beijos sem desejo, com motivos
beijos vivos,
beijos mortos,
não sou dado.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

ÉTICA GENÉTICA

a genética é bonita,
a genética é estética,
a genética é estática,
feito estátuas em mármore,
feito frondosas árvores...
feito peito,
seita, seta
aceita, genética...

a genética é o que nos faz;
e nos faz tão gordos, magros,
ogros, sacros,
acres ou chatos,
tudo isto...
isto tudo, a genética.

a genética te deu estes olhos,
genética nos germes, nos piolhos
esta tua genética, semelhante ao do teu pai
esta genética, antes dos teus pais
herança, aliança, deu-te propícia pança
poposudas ancas, assim como os destinos das orcas
a genética é feito conceitualidades de Platão:
é o que te faz homem, não o faz cão;
a genética te molda, moldura-se no teu rosto
não te faz tão oposto, faz-te aquilo que a combinação determina,
fez-te homem, fez-te menina,
tez morena, olhar oriental
deste a tua beleza, tudo mais...
e assim como um Quixote que das palavras se destina,
foi apenas uma alteração numas letras descortinas
que acabei diferente e distante dos lábios teus...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ARLEQUIM LOSANGO

Traje
Ultraje traste
Contraste,
Haste,
antes
(Nada)
(Nada)

Amor,
morte,
Coração e
morte

Arlequim Losango
Ordem
em Progresso
Excesso, Essência
E
A filosofia serve até para (trans) formar
Assassinos em
juízes

Amanhã
A manhã em beijos
E tetas
Todo sol nasce, cresce
reproduz
produz
envelhece
e morre...

Arlequim Losango
é moderno
é paulista
foi e não foi,
Ser ou não ser (Sr. or not Sr. ?!)

Acima de tudo
da f(ph)ilosof(ph)ia velha,
do Ph da água,
do estado e do príncipe,
Acima da cisma
Acima da língua

De cima
o Arlequim Losango
montado num cavalo prateado

copas e cartas,
espadas e damas,
Losango vermelho e negro,

Um louco arlequim,
Sangue e carvão,

Macunaímaco
branco
preto
índio
Louco Arlequim Losango.

Jamais
Eu amava,
J´amais...

O tempo.
O tempo.
O tempo.

(2005)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

SILÊN-SOM

“Nenhum som teme o silêncio que o extingue." (John Cage)

Shhhiiiiii....
Silêncio !!!!

Silêncio.

Silêncio ?!

Silêncio...
Silêncio, sim ?!
Silêncio... som...
Silên-som...
Shhhiiiiii....

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

TOCANDO-MIM

no banheiro
nu
imaginando-me
nuno
tocando-mim
sônia


aaaaaahhhhhhh...

quando...

triiiiiiiiimmmmm !!!

amando
no vai-e-vem
na palma da mão
vai-
e-vem
minha dama
minha daminha
minha ninha
daninha
não...
onã
oh não
oh sim
assim
não não
na mão, anseio do seio
na mente, demente, di-amante
qualquer esporro...
qualquer gozo...

quando...

“sai logo daí, menino !!!”

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O BOM LADRÃO

O bom ladrão
não rouba por mal;
ele rouba pro bem:
o coração de seu bem...

O bom ladrão
vive num eterno calvário,
pregado na sua cruz eterna, etérea
estérea, dadivosa,
maldita...
Morrerá
sem merecimentos ou orações,
sem irmãos ou corações,
sem seu bem...

O bom ladrão
pacato, apático, curvado,
sem meandros ou equilíbrios,
no fio de navalhas, cordas bambas.
Bom ladrão não se rende,
nem rende tantos milhões...
ele rouba, ele rouba
rouba por tão amar,
por amar tanto,
o bom ladrão rouba emoções ou encantos,
e por isso mesmo teve perdão;
o bom ladrão morrerá sem saber
o gosto acre das falsas conquistas,
o azedume de vencer, de ter a carne morena...
O bom ladrão, lado a lado com a Verdade e o seu oposto,
ainda teve tempo de pedir desculpas,
regojizando-as ao sagrado coração...
Nosso senhor, então, cercado de extrema unção
não definhou em lhe dar perdão,
sabendo condená-lo em chagas,
as usuras de roubar um coração.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

DES PERLES DES PLUIE (POEMINHO)

Amor,
o quanto te quero
pesa mais
que o vapor de nossos corpos,

Amor,
se eu pudesse encurtar estradas
e trazê-la para mim,
se fosse uma chuva de pérolas,
se eu fosse, se cabesse, se trouxesse
(mas eu nada...)

Ou se, por acaso, meu olho
no seu
revelasse segredos,
poeminho,
um caminho, uma viagem
ou seu lábio febril duma paixão,
recordação
num relicário,
lembranças que costuro
para grudar você em mim.

(2005)

AMOR NÃO CORRESPONDIDO ("O CARA" OU "AS CALÇADAS")

Aí o cara vai lá...
e ela diz não.

O cara insiste.
e ela diz não.

O cara faz poemas, um bolo de chocolate, planta flores...
e ela diz não.

Aí o cara compra palacetes, montanhas, países, a Lua...
e ela diz não.

Num último argumento, o cara diz que a ama.
E ela fecha os olhos, respira, sufoca, e diz não.

O cara anda pelas calçadas, desolado
e vê seu grande amor de mãos dadas
com um outro,
sem nome, sem poemas, sem palavras de amor

Não correspondido, o cara procura uma ponte...

Jogando umas pedrinhas,
Observa um novo alguém que também joga pedrinhas na água.

Aí o cara vai lá...

(2005)

VOCÊ PERENE EM MIM

Aquele meu coração
que um dia você visitou
não é mais o mesmo não...

Ele agora (racionalmente)
Bate, bate, bate...

Bate na sintonia
na sinfonia da voz
que me acalanta
encanta,
me sustenta e nutre.

Você, eterna estrela,
- um brilho ! -
somente a brevidade das estrelas
para mostrar
você perene em mim

Aquele meu coração
é sangue
é você,
meu sangue, meu fel,
aquele coração
meu pobre coração roxo e mendigável,

aquele coração que desenhei em papel,
antes, árvore, canivete
cavalete, cimento
é o coração que bate antes de sofrer.

(2005)

AS VACAS

Obrando pelos campos,
doces vacas dum poema bucólico...

Estaria lá
eu
e Marília de Dirceu ?!

Colho cerejas duma moita qualquer.
a aurora bate em nossos rostos,
Aurora...

Ariadne, minha Ariadne,
Uma Ismália a voar

São doces ninfas
e vacas a pastar.

São ninfas belas
e vacas a pastar no campo verde de Garcia Lorca !

(2005)

OS POVOADOS (CAMINHOS SECOS)

Pelo asfalto que corta
o caminho seco,
atravesso, numa velha Caravan
eu e um grupo de velhas

velhas pessoas
velhas idéias
velhas pernas que me apertam,

Atravesso caminhos,
caminho por um mundo que teimava em seguir

busco me procurar...

Os povoados há povos
gente de semblante velho,
da boca seca,
da lembrança velha,
das rugas precoces, do trabalho braçal...

Os povoados guardam esperança
O silêncio
ronda
as rodas dos caminhões,
são os veículos da vida,
aquilo que transforma o povoado
num lugar ao menos alegre...

E eu, numa velha Caravan de transporte
pensei enquanto triste
no qual triste sou.
A vida deu-me um abraço
e os meses, uma mínima concepção de ser.

(2005)

AMOR EM METONÍMIA

Hoje,um pouco de mim foi jogado às cinzas
como se algo vingativo toma-se meu corpo
e fizesse ver,
o quão podre é meu corpo, meu corpo
o meu desejo por você...
Hoje,seu corpo é de outro,
sua boca é de outro
quem sabe até sua alma foi aprisionada
por um demônio qualquer,
Hoje você morreu devagar, não quis lhe ver
Hoje era o dia que eu
queria me esquecer.

(2005)

LINDOS OLHOS DE MENINA

Tão lindos
olhos de menina,
cor de mel, pequenas pupilas que cintilam
Lindos
olhos de menina travessa.

Por que não sei
domar este coração ?
Será que entre eu e ela
há diferenças, idades ?

Lindos olhos infantis, meigos
criados e delineados,
olhinhos que procuram fadas e fantasmas...

Minha garotinha,
meu dengo e meu afago,
apego
apago meus olhos,
pago caro por estes olhinhos...

Linda, dei-me a compaixão destes seus olhos !
Por mais que sua inocência pareça gelo
e meu zelo, a anti-ética massacrante...
Olhos de candeia,
teia tenaz,
não paro de olhar-ti.

(2005)

DIA

Todo dia é um dia pleno,
todo dia, planos
o dia todo, sereno
noutros dias serei de pano...

Algum dia serei menino,
Um dia soará meu hino
Dia-a-dia, operário
Fim do dia, um salário

A mais, a menos
ao menos, um dia a mais
Deus deu-me,
Deus criou-me
no berço de ouro pobre.

Dia, noite, tarde...
nunca é tarde,
tarde demais, nunca !
O dia é vários dias num dia só...

Encaixo-me nas possibilidades.

(2005)

PAPEL DE CARTA

Linda,
passeava nua pelos bosques dentro de mim,
extremamente solta,
cabelos que encobriam os tornozelos.

Colecionava papel de carta
num classificador negro de tantas vidas,
sentia frios e calafrios,
emanava esperanças na sua úmida voz.

E o tempo passou. Eu durmia nas redes do seu vestido vermelho.

Menininha, minha
Meu bem, nada além
Um mar, conchas na areia onde seu pé gravou-se
(eterna marca de seu pé),
Garota do amor perfeito,
em flor,
perdi-me naquela carne, feito Vinicius...

A sensualidade, onde ?
A paixão, viva !
Seu nobre coração invadido :
È Ramon, È Elias, quem seria ?!
Suspiros sobre a cabeça da boneca,
estranhos comichões,
choro aguado no travesseiro.

Perdeu a trança, abandonou os hábitos
recusou o colo do pai,
virou sereia, virou algo...

Cadê você hoje em dia ?
Esquece de esquecer que o sol é apenas um astro
e não mais um outro dia ?
Perseguindo borboletas, assobiando para passarinhos...
Subjulgando minha racionalidade, pra quê ?

(2005)

CHEIRO DE CHUVA

Chove na cidade.
A cidade se molha das águas,
o povo festeja,
o valor da chuva...

Chove lágrimas do rosto cheio de rugas e feridas.

Cheiro da terra molhada,
cheiro de chuva invade a casa cheia de gente,
todo mundo se assusta - fantasmas, flores, risos.

Chove na cidade.
A esperança se banha do aroma,
o sertanejo se banha de esperanças,
simplesmente a música canta folhas orvalhadas.

(2005)

sexta-feira, 31 de julho de 2009

TEMPORAL

O que sou ?!
Passa(n)do, Fu(tu)ro?!
Um presente em qualquer pretérito, qual mérito ausente:
o tempo insurge, vaga e torna-nos refém e sêmen...

quarta-feira, 29 de julho de 2009

AMAR: UM JOGO DE LÓGICAS ?!

A namorada do namorado,
a amada do amado...
a lógica de tudo está nas ilógicas disto tudo:
amar e ser amado,
amar o ser amado,
namorar o namorado,
enamorar-se de tudo isto...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

NÃO ME IMPORTO

Não me importo
se sua porta não se abre,
ou se meu porto não ancorou-se cais,
não me importo,
não me importo se exporto ou expurgo estes ais,
se a chaga não cessa mais,
ou se seus carinhos não são meus...

não me importo
se dorme na cama do mal,
ou se o quer bem,
se é seu bem-querer,
se lhe querem...

Não me importo se você não me deu.
ou se doeu,
ou se se...
se se...
não me importo se seu homem sou eu
ou não,
se sou,
se não,
eu não me importo.

passar passou,
imperfeito seria
se eu morresse,
se morresse de amor, feito o poeta,
se eu fosse assim tão imperfeito...
E morrerei rei,
meu futuro do presente:
um presente do futuro.

Imperfeito foi este meu apetecer,
seja para mim ou para você,
e que agora transformou-se, pueril,
em algo que se esvairiu,
num nada que não vale a pena remoer...

Juro que não me importo;
viva suas possibilidades, o novo, o que agrada...
vou buscar outras faces ou frases,
outras luas, outras ruas, outro alguém...
procurarei o que me faça bem,
apenas pelo amor imposto...
Então somente ali, absorto, proclamo:
Eu não me importo.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

BRISAMAR

Pra Brisa Maria, minha sobrinha q está por vir...

Brisamar
brisa amar
Brisa Maria
brisa mar,
vento bom, brisa boa
Brisa brisa,
tudo o que mais se precisa
é ver logo o seu rosto, seu encantar
encanto cantar
contar lendas, se trançar de mar
será da cachoeira, será do sertão
de todos os recôncavos, das chapadas
meio sereia, seio fada
será a nossa descendência, continuidade
a alegria da família, familiar
Brisamar...

carinho, acalanto
nanar, ninar
coisa linda, lindeza infinda
mil poemas do titio ainda serão ínfimos
pra expressar esta máxima,
da qual você é tão próxima
deste amor incomensurável que iremos dar;
menininha do soninho por embalar,
tão pequenininha, um docinho
mal cabe na palma na mão
mas é uma gigante que nos unirá,
um elo, singela flor
Brisamar...

terça-feira, 30 de junho de 2009

UM DESVELAR

Criado depois de um pedido do meu amigo Bigão

Apareça, poeta !
saia deste limbo ora marginal, ora claustro
não seja apenas de alguns medíocres ou lazarentos
seja sim de todos, dos holofotes, dos movimentos !
Seja aquele de bata, sandálias, boina, jeitão...
não adianta estar diante de uma tela,
de um quarto fechado,
dos casulos ou do âmbar que não reluz...
Apareça, poeta !

assim a mulher não te quer,
assim o querer não te tem,
assim não terá vanglória,
nem vitória ou escória,
poeta na escuridão não brota flor,
não bota nenhuma poesia de bosta
nos pasquins alternativos,
esteja vivo, poeta !

Dance o forró que te oferecem,
cirande senão a vida te ferra,
seja ferro, brasão, asa, canção
seja algo qualquer, tudo menos este niilismo.
Se desvele, mesmo que num mesmismo:
se agrupe, se amalgame, crie uma crista, uma crosta
afinal, cada sentença tem sua cabeça...
Poeta, apareça !!!!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

DANÇARINO DAS ESTRELAS

Para Michael Jackson (in memorian)

Dançarino das estrelas,
caminhando na lua,
aquele que num jogo de xadrez
era rei negro, era rei branco,
tão complexo, tão sem nexo
desvirtuando de virtuose
toda sua catástase,
toda sua ascese ou catarse
como um herói trágico
que vence na morte
ou faz dela sua amada...

COMPLEXO DE NÓS

Enquanto seu beijo não vem.
Enquanto seu beijo não vem,
enquanto seu beijo não vem...
retiro-me num livro.

enquanto seu beijo
tão
vão
não vem...
enquanto seus beijos
vãos,
não
vem ou vão,
retiro-me num livro.

um nó
num complexo de nós:
eu e você numa impossível mão,
enquanto seu beijo não
eu vou
e retiro-me...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

TODO MUNDO

Todo mundo fede
Todo mundo pede
Todo mundo cede
Todo mundo sede...

E todo mundo todo mundo
todo mundo é o mundo,
o mundo é todo mundo.

O mundo é todo
o mundo, toldo de estrelas
Todas as estrelas é lona de circo,
Todo o mundo são todas as estrelas,
O mundo é um circo, um cerco, um círculo vago
O todo do mundo, toldo do mundo, tão divago.

Todo mundo pode
Todo mundo poda
Todo mundo fode
Todo mundo soda

E todo mundo todo mundo
todo mundo, mundo
o do mundo, todo mundo...

Todo mundo não cabe
não se sabe na palma da mão,
todo o mundo é maior que todo mundo,
que o todo no mundo,
que o mundo em sua vastidão.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

REPETIR

Vou enamorar de lua
Vou me explodir de cosmos
Vou me envenenar de orvalho
Vou voar além-infinito
Vou caminhar luzir
Vou pintar camaleão
Vou apedrejar e azulejar
Vou azular cameloar
Vou caramelizar o céu-da-boca
Vou condecorar o seu sorrir
Vou acarinhar nuvens
Vou turvar um rio

E vou...

Vou fungar fugir
Vou fingir agir
Vou gris grisalhar
Vou decalcar a giz
Vou descascar deglutir
Vou untar e parir
Vou partir e chegar
Vou repartir par
Vou parar continuar
Vou desnudar desunir
Vou sucumbir subir, sambar
Vou encenar andar
Vou doar dar sanar
Vou sarar este seu tediar
Vou retardar outra tarde

E vou...

Vou então
Trovar canção
Trovejar vão
Entoar no ar
Namorar amar
Traduzir desdizer
Beijar a face outrem
Impedir o trem
Tremer arrepiar
Calejar cavar
Verbalizar candeiar
Alisar analisar
Vou ousar
Desejar querer
Jejuar comer
Volver e ver
Envelhecer brotar,
repetir
e então findar...

Vou...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

UM DOIS

Para um 12 de junho (ao som de Piaf)...

ser um dois
um dois
um ser dois
sendo um dois,
dois sendo um,
então vontade de ser
metade de metades,
par sendo ímpar,
e sendo
ímpares ou
vários pares...
sendo ora multidão, ora solidão
tendo mundos ou doer profundo
a dança, túmulo:
valsa dos amores, (a)cúmulo, cumulus...

um
dois
doze, uma data
este data,dose...
data de ser um
data de ser dois
data do ser um dois, um dois...
ser um dois
mãos se dando, mão abanando
não sedado, sim saudoso
abraço que nos faz um,
nós que nos unem, dois
depois que torna-se sempre,
sempre vindo dum pois,
pois somos um
somos um
um dois
só dois,
um
só.

terça-feira, 2 de junho de 2009

ESTA LINHA

Se eu morresse precocemente
morreria feliz
pois sei que escrevi esta linha.
Se tudo, por acaso, terminasse
e não houvesse chances para outro sim,
mesmo assim contente fecharia olhos
pois sei que escrevi esta linha.
Esta linha só minha,
a linha que aqui está
descrita por mim,
trêmulas mãos sozinhas...
Linha que divide o que escrevi e o que será dito,
Linha em que tudo quis dizer
Linha muda,
Linha que nunca muda,
A linha que ainda estará lá nos meus últimos suspiros
esta linha que dirá palavras que quero ouvir.

Se Deus quiser que sejam minhas findas falas,
feliz ainda estaria,
pois sei viva seria
esta linha.

(2006)

PASSO A PASSO PARA SE DESCOBRIR O AMOR

Assim descobriram o amor:

Morava sozinho e fumava duas carteiras de cigarros baratos por dia. Tinha uma leve verruga no nariz desde a nascença, olhos verdes e escrevia poemas. Seu pequeno conjugado dispunha de um quarto e uma sala onde se dividia a cozinha por um lençol estendido num varal. Trabalhava num emprego público, destes conseguido via concurso. Mantinha a barba por sentir-se feio e de poucas namoradas na vida. Chamava-se Nelônio, mas adotara o Nê como signo para reconhecimento social...

Ela também morava sozinha. Já fizera aborto e gostava de chocolates. Não fumava e só bebia vinho tinto, um copo o suficiente. Já tivera cabelos ruivos, verdes, meio loiro e optara de vez pelos castanhos. Nem mais lembrava qual cor era o original... Gostava de Neruda e Quintana, mas abominava os concretos (“exceto Ferreira Gullar”, frisava). Porem não era muito de ler, só dois ou três por ano (nem sempre obedecendo esta ordem...). Assistia novelas na TV e pintava as unhas de negro. Seu lar tinha dois quartos, um seu e outro para visitas casuais. Não tinha fé, mas mantinha um Santo Antônio de rosto descascado e alguns anjos como bibelô. Suzana no RG, Sú para os amigos. Detestava tal nomenclatura...

Viram-se pela primeira vez através de um amigo em comum, um ex da garota. De começo não se bateram: achou-a baixa demais, ela encrencou com a barba do sujeito. Mas concordaram que foi uma boa o cantor da boate tocar Jorge Ben. Nem chegaram a trocar telefone e em meio tempo ele esqueceu o nome dela, logo nem lembrando mais do seu rosto. Ela, ao contrário, fechava os olhos e lhe vinha à imagem daquele desgrenhado, o fumante de mata-ratos... A sua justificativa para tal opção de cigarros fora inesquecível para ela: “Fumo porque sou meio masoquista - adoro a taquicardia casual, a vertiginosa queda de pressão, a tontura inevitável...”. Achou lindo aquilo, meio parnasiano, meio Augusto dos Anjos. Anotou a frase na sua agenda e de alguma forma aquilo se tornou iconoclasta para as lembranças daquele momento... Passou-se um mês, uma primavera, algumas chuvas e ainda sim não se viram. Neste meio tempo houve problemas no encanamento da casa dele e ela teve que hospedar uma tia chata que viera do interior a tratamento médico...

Nê começou a sair com uma mulher de nome Marly. Sú tentou reatar namoros antigos, inclusive com Rondinelli, o tal amigo em comum... E foi durante um destes encontros sem procedentes que se bateram novamente. Ele sabia que a conhecia de algum lugar. Ela julgou a garota que andava ao lado dele, desdenhando-a. Foi Sú que falou o primeiro “olá, quanto tempo...”. Ele respondeu o mesmo, contudo sem o “olá”. Nê demorou em lembrar o nome dela, porém a garota recitou na mente a frase dele que a marcou. Tendo Rondinelli como cicerone daquele instante, acabaram tomando umas cervejas e foi ali que Nê percebeu Sú pela primeira vez... A voz da garota era suave, de agradável audição. Suas conversas cheias de conteúdos, um refinamento pra falar as palavras, apesar de errar nos oblíquos. Falava e balançava os cabelos, ou então brincava com os pequenos fios de sua nuca, como se num jeito bem inocente. Usava pouca maquiagem, um brilho nos lábios, bem tênue. Pouca sombra nos olhos, o que realçava mais ainda seus olhos ora azuis, ora verdes cristalinos. Usava uma camiseta branca, estilo Hering, e um casaco amarronzado por cima desta. Um médio brinco de argola e uns dois anéis na mão direita. Quando a cena acabou, trocaram telefones.

Ele só ligou depois de cinco dias. Pensou antes em terminar com Marly aquilo que chamaram de namoro. Sú estava ansiosa, esperava a cada momento pelo toque do telefone. Nê vasculhou nos bolsos o papel com o número, talvez por isto tenha demorado mais tempo que o previsto para fazer a ligação. Falaram os primeiros alôs, mas logo veio o silêncio sentenciador. Foi ela quem puxou assunto, destes do tipo “como a noite está estrelada, né ?!”. Ele perguntou qual era o lance dela com o Rondinelli. Ela gostou da pergunta e respondeu que era carência, coisa a toa, um “casinho”... Ficaram exatamente 59 minutos se falando. Sú desligou pensando em casamento. O homem foi escovar os dentes...

Passaram mais cinco dias sem se falar – ele tivera que fazer uma viagem a serviço. Ela pensou que havia pintado desinteresse por parte dele. Espantada ficou quando se viu chorando. E então rodopiava pela casa lendo aquela frase, “fumo porque sou meio masoquista...”, repetindo várias vezes enquanto ouvia “It’s Very Nice Pra Xuxu”, dos Mutantes. Nestes dias choveu, não houve sol e o joão-de-barro, que acabara sendo seu único confidente, resolvera não aparecer para terminar sua obra nos galhos do flamboyant no quintal da vizinha. Sentiu-se tão só...
Mas foi num dia ensolarado, segunda ou terça - não lembrava - pela manhã e o com o joão-de-barro novamente a enfeitar a árvore que ilustrava a janela do seu lugar de dormir, um destes dias de se encontrar o amor, neste momento em que tudo conspirava, que o telefone tocou. Disse um alô de ansiedade, de quem aguarda, de quem quer o exato alô medido, a voz rouca que respondia, tênue e agressiva tonalidade e palavras soando meio azedume, meio banho de cachoeira... Nê pergunta se incomodava, ela responde que quase onze não era cedo. Ambos riem, um riso de quem não se conhece, completamente insosso. Ela puxa o telefone para perto da janela e de lá observa o pássaro terminar sua construção. “Você tá ouvindo o quê aí ?”, pergunta Sú, que percebera um som que quase incomodava o colóquio. “Ah, é Fela Kuti... “Water No Get Enemy”...”. Ela nunca havia escutado falar em Fela Kuti, nem sabia quem ele era. Não sabia se era homem ou mulher, banda ou orquestra... pra falar a verdade, ela nem sabia porquê havia perguntado aquilo – nem prestara atenção no som. “Eu gosto de Mutantes...”, disse timidamente, como se fizesse questão de mostrar seus conhecimentos... ou então para meramente fazer alguma associação com a música que o outro ouvia... “Mutantes é bom também...”, ele disse. Ficaram quietos depois disto. Um silêncio perturbador, uns quarentas segundos... “Então...”, um pergunta. A outra voz responde igualmente. “Vamos sair ?!”, a sentença parecia tão simples, mas causou formigamento na garganta daqueles amantes. “Bem, pode ser...”, “Quinta tá bom pra você ?!”, “Quinta agora ?! Ah, pode ser sim...”, “Então tá... Quinta-feira. Combinado?!”. Concordou.

(2007/2009)

ÚLTIMO

Último
será ?!
o primeiro...

primeiro dia do ano...
primeira esperança de minha velha idade...
qualquer coisa que valha...
algo de palha, força de vulcão.

quem lhe disse
que o último
ainda será o primeiro ?!
talvez tenha sido alguém que, no mínimo,
alcançou o segundo lugar
e vê a primeira posição na distância de um nariz...

a não ser que seja pós-meia-noite,
já que aí todo gato é pardo
e todo último talvez prove o gosto de ser número um...

(2007)

PRESENTES

para amigos...

Um mar tão longe talvez nos separe,
mas que este amar tão longe nos prepare
para o encontro já inevitável,
feito óleo em água potável,
que mesmo nítidos separados,
bem ajuntados num mesmo copo estão.

e é feito
efeito ou feitiço,
borboletas no estômago...
Feito
não estar tão perto,
mas estar tão perto,
mesmo que distante...
a distância foi feita pros desamores.

num papo de calçada,
na enseada,
uma conversa ensaiada,
descobrindo que só contigo
todas as magias existem...
e alterar destinos, como um Deus - Amélie Poulain
(ou as moiras em novelos de lã);
aí trazer você comigo,
fazer do sentimento amigo
isto que corroí o umbigo,
criando alguma espécie de cordão
e ligando-nos, traçando-os, na palma da mão.

E ser presentes um do outro,
estar presente nos segredos indolentes,
assim poder ver meu contemplar consciente
na cor de seus cabelo,
poder tocar-te os pêlos,
sentir arrepiados e sê-los
o seu motivo aparente...

assim, consagrar-me cavalheiro
ou ser um malandro de navalha,
ser poeta ou mero notívago, vago e solene
um maestro, uma canção somente
ser esta agonia, esta borboleta nervosa
sentir-se choro, um declamo; em flauta: “Rosa”
ultrapassando esta distante muralha
e perceber-me assim, num olhar inédito, seu companheiro.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

EM SI, MULHER

Ao som de “Tristeza”, interpretado por Putte Wickman e Sivuca

De repente
a vida, redemoinho
remoendo pelo caminho
aqueles pequenos
trocinhos
que eram
ora horas,
ora eras...

Então, flor daninha
feriu meu coração
com grandes espinhos
este músculo, tão esperança verde...
Constatando o que não se gosta:
fertilizantes não namoram estrume,
já que um, tão nobre fezes
o outro, as vezes bosta.

Então em si, mulher
tão nota musical, escala
anota-se,
que dentre todas
você é ainda pra quem responde meus quereres.
E o que dizer, que dentre os outros seres
é você quem domina as trevas de minha razão,
que é você a princesa de um pobre desejar sabatinado
em saber que está ao seu lado
é apenas miragem, tolo sonho, o que não se deve pedir...
Você, mulher em si
silêncio de um acorde,
acordo que me acorda:
não posso porque sou reles,
não sirvo porque nosso cristal não reflete mesma convecção...

esta é minha convicção:
a mulher em si,
para mim, não.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

HAIKAIS FINITOS

I
Haikais finitos...
ditos mal:
malditos.

II
o brancume do papel:
seu cume é
limpar o cu.

III

haikai
cai:
ai !

IV

Ler Ruiz,
Ruiz-tecer:
conceber haikais.

V

Toscos haikais que te escrevo:
seria das trevas que atrevo
a conceber algo de suspeito gosto ?!

segunda-feira, 2 de março de 2009

O POETA QUER O ROCK

O poeta quer uma guitarra
O poeta quer ter groupies
O poeta quer um riff
o poeta não tem rifles
o poeta não tem cuspe
o poeta não tem garra;

o poeta é sem graça
o poeta é sem noção
o poeta, sem garotas
o poeta, sem rotas
o poeta sem nação...

O poeta, apenas, poeta
poetize, poeta !
O poeta martiriza-se
o poeta materializa-se
o poeta se consome
o poeta some, some...
o poeta não soma
o poeta, sumo
o poeta, bagaço.
O poeta é um traço
o poeta, uma traça
o poeta que destroça
o poeta sem fã
o poeta com afãs,
o poeta, amanhã
o poeta quer o rock
o choque, a pedra
poeta-pedra
poeta-metal
poeta-tal, mel
poeta, poeta...

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

TALVEZ AMANHÃ

Como estará eu amanhã ?
Talvez numa roda de samba
ou na tal ciranda da vida...
Talvez amanhã
estarei nas manhas
dum afago que assanha,
entre mil mãos a afagar...

Talvez amanhã
eu me segure e não caia,
talvez me fure e descompassa,
talvez este amanhã não passa,
talvez ele será apenas um ontem,
dum hoje...
O amanhã talvez até vire a burocracia de um dia,
semióticas dum calendário
que prenda diários e lunários,
que apreende meu amanhã,
que me faça ver que não é mais carnaval...

Talvez, amanhã, o poeta dance como deus
e descanse à meio-fio, galopando estrelas...
talvez ele descubra as luzes das palavras
que não sabe ler ou compreender
talvez ele rime e te faça um acasalamento,
talvez ele apenas mire e, num aceno, me estende a mão.

Talvez, poeta, o amanhã não usurpe materialismo, dialéticas
ou qualquer metáfora irmã...
talvez ele nem tempere as interperes
dum caso ao acaso,
talvez a queda tenha sido a contra-dança da beleza
ou a renegação dum estragema,

Talvez poeta...
Talvez amanhã...
talvez meu verbo não precise conjugar,
talvez seu devir, tempo, venha e me faça
ver, com olhos de espelhos
enxergar, muito além de um coração.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

JUVENIL

Onde a juventude sem dimensão
antecede noites e tempestades,
trazendo contigo
o bálsamo-fogo
do istante feliz
lascivo
voluptuoso...
Como se a ira do dragão
no momento turvo,
vivo e o tempo,
somente consigo,
beijam-se na compainha siamesa
dos corpos;
luz, luz
luz de minha mocidade !
trazei em mim
a criança imaculada,
buscai nos umbrais do meu ego hostil,
mil demônios
que autofagem passagens cegas
e concretas, insanas
o dorso-ilha
o id-continente
fincado
na hora que o trio anuncia
(docemente)
as trovas em liras
dos pecados que teremos...
e abençoamos num triz !!!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

PARANÓIA/MISTIFICAÇÃO

Pra se ler ao som de “Sprout and the Bean” (Joanna Newson), a coisa mais surreal que ouço no momento...

Felipe comprou um carro – Van Gogh cortou uma das orelhas.
Elvira comprou mais um carro – Nietzsche morreu num manicômio.
Luís usa belos ternos – Picasso pintava realidades em cubos.
Indira comprou outro carro – Napoleão queria ter o mundo.
Pacífico leiloou algumas de suas ilhas – Nero, tocando harpa, ateou fogo em Roma.
Rita comprou um carro importado – Kerouac tinha esquizofrenia.

Fran ganhou diplomas...
E Josef Hassid foi lobomotizado,
morreu jovem, ninguém o ouviu...
(este tocando o “Humoreske Op.101 nº 7”, de Dvorak...)

Adão tinha uma namorada
e mais outra
uma não sabia da outra;
então ele tinha mais outra...
e mais uma...
uma, duas, três namoradas...
Nenhuma delas ouviu falar em Nise da Silveira.

Talvez nem eu...

Paranóia ou Mistificação ?!

(Freud, Lacan, Foucault...)

E Aladin devora lagostas e caviar num caro restaurante...

Eu, então, envolcro num manto feito por Bispo de Rosário,
capa cor de estrela, cheiro de mar,
do lilás da violeta, do ânis anil do suicídio...

escondendo-se em qualquer loucura
buscando minha chaga, ferida, corte-cura
talhando a própria cicatriz que risca meu mapa, meu corpo...
nunca, nunca me entregando às garras do comum instituído
jamais sendo absorvido por sistemas, anátema ou silogismo-pragmático

quero a insana que asanha e roça a boca perene !!!!

não ambiciono jamais a roupa nova que me fará gente,
quero sim a indulgência que me fará vil, me fará rei !
quero o par de asas ou o alado cavalo que me fará voar
na “new canción de Mutantes”,
quero, calado, a majestade magnífica de ser o que sou...
sem Deus ou prognósticos,
sem tratados que destratam,
sem a imposição do normal...
não quero vencer num mundo em que todos vencem
e muitos perdem,
num mundo onde a fome prevalece ao tal amor-outrem
não quero que meu ontem seja apenas nostálgico e distantes,
antes que o futuro não venham,
que não covenha um mundo de loucura patológica...

Quero esta maluquice de ser esquisito,
de mostrar minha língua e ver curvas no universo
quero a pequenez de saber-se gigante
mesmo encolhido, mesmo frágil, mesmo cristal...
e poder ter poderes de poder,
destroçar quaisquer parede que impeçam,
ir quando o vento diz o contrário,
ser a pedra que separa o rio,
ainda que sendo cocégas no grande ato capital:

não quero a obrigatoriedade do ser !!!!