sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

ALIÁS, LILÁS...

me organizo no meu caos,
sou caô do seu discursar,
sou curso de rio, corda de rapel
azulejo dum azul céu,
ou aliás, lilás...

alheio a qualquer passo,
compasso de medir meu caminhar
boca amiga de ditames infímos,
escarrado beijo, mão de apedrejar...

o que digo, no vazio do meu cio
é silêncio oco, cheio de estio
cavalgada insana, assanha o pêlo vil,
dorso, escama,
um arisco arriscar...

risco em chamas, chamar sem eco
sem voz, sem você...

seus lábios são lábaros
onde proclamo amores em desvario,

vou dizer o quanto gosto de você
em pequenos aforismos, gravados em árvores mortas...

mas não há você – apenas deliro...
deleito-me da lira, enquanto Roma em pira,
incendeia meu ser em cadência.

o meu caos me organiza,
agoniza minhas entranhas,
estranho ser: será o eu do meu eu ?!
seara nua, Pasárgada dolente...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

SER PRA SI

Intencionalmente feita para ser uma letra a ser musicada pelo meu amigo "Rafael Pernambuco", mas a vergonha de envergonhá-lo acabou tornando-a num poema...

a cada passo seu,
o tempo passa ateu,
é como se o espaço fosse só meu e seu,
e o céu, quintal do nosso prazer...

a cada instante nosso,
é como se nossos ossos
fossem uma carne só,
ou como se as cores
se tornassem um único som;
e aí o que é bom
não seria imoral,
nem nosso odor, uma dor sem fim...

seríamos, assim
a paz que não se conquistou
ou a eternidade que não findou
e teríamos, enfim,
este piegas amor
lira que o poeta não trovou,
travessia virgem que não se mapeou,
apenas beleza dum encontro que se prolongou
canção que não rimou
com este cansaço
de tê-la assim em meus braços,
de ser só este ser pra si...

AMIGA (DESTINO INDUBITÁVEL)

amo-a de forma proibida,
prendo-me tão somente em nossa amizade...
é você quem quero escutar sempre,
é você a cotovia que me acorda e o sono que me deleita,

amo-a, amiga...
não posso então lhe querer..
qualquer passo poderia estragar nosso caminho,
o avanço poderia ser daninho,
destruir nossos tênues alicerces...

amo-a, pois sinto sua falta em todos meus bons momentos,
decalco-a então numa sublimação surreal...
tento dividir contigo tudo o que de mais lindo vejo:
um pôr-do-sol, um ninho, um pingo de chuva...

amo-a e castro-me por isto,
construo barreiras para me impedir de você,
não é viável sermos amantes,
nada poderia soar como antes
a infelicidade seria então destino indubitável...

amo-a: você me enxerga,
despe minha alma e sabe meu doer,
amo-a em castigo...
amo-a de forma errante...
amo-a e renego-me...
amo-a, cego e tonto...

amo-a porque seu sorriso é brilho para minha vida incolor,
amo-a, pois seu olhar ao sol ganha contornos de sossego...
amo-a pois é minha amiga, confidente, confissionária...
amo-a da forma necessária, como num profano toque peregrino
amo-a tornando-me gigante menin ou calor que você merece no terção calafrio,
não posso...
amo-a até o deteriorar dos ossos,
até findar meu sopro de vida...

amo-a, mas desta forma não pode...