segunda-feira, 19 de setembro de 2016

VERSO INÉDITO



 
Era para João Paulo musicar - e não foi...

Pra fazer um verso inédito, amigo
e assim manter eterno crédito contigo,
precisa vir das entranhas, do umbigo
coisa estranha que afaga, um abrigo...

Para lhe trazer um cantar poema
Digestivo, sem grandes problemas
que se faça estandarte, ora emblema
natural, feito clara e gema
ou clássico, como beijo num cinema...
Necessito, básico, duma dose pequena:
pensar numa ou mesmo não estar com ela,
pincelar no branco da aquerela,
ser sono do sentinela,
o nome na tal fita amarela...

Desvencilhando de minha filosofia capenga,
o labor no lábaro da encomenda,
o prazer que se injeta ou emenda
seta que vai, cega em sua prenda:
faço minha mágica com notas moucas,
o gutural mentalizado de vozes roucas,
estampa nua de tantos carnavais,
a rua, o bloco, o risco, a varanda...
e avarandar esta ciranda:
"nossos próprios dramas nunca serão banais..."

o canto no choro,
letra que podia ser canto
mutante, riff, batuque
rifle ou truque, blefe...
patife destino que me faz parar e seguir,
expectativa do criar, parir, cuidar,
fazer deste labirinto, meu escarro
na estima que sinto,
da prima obra-prima
ou no cantar, carinhoso, meu joão de barro.