quarta-feira, 28 de maio de 2008

MODESTA BALADINHA DE AMOR

Ao som de "Avarandado" (João Gilberto)

Enquanto você repensa velhos fantasmas,
tento viver minha vida sem sua presença,
vendo dentro de mim aquela coisa que se mutila,
sentindo que a estrela não mais cintila,
não rimando para não parecer tão óbvio...

Enquanto você remexe seus internos baús,
eu, sereno, procuro lhe esquecer por quase nada
tento vê-la, mas você só aparece na madrugada
sorrateiramente, cãndida, indefinida
afinada, paixão guardada, mar que não sei decifrar
amar velado, cheio de véus e negros céus
você, meu sol sem cor feliz
você, meu colorir gris...

E busco, nesta modesta baladinha de amor
não mais ser seu par, nem âmbar, nem momento ímpar...
quero tão somente dar o meu grito,
inaudível agudo aflito,
inadíavel revelação que escutei sem querer...
desabafo preciso, oscular inciso
lhe auscultar e não mais cultuar
qualquer dito seu de amor...
Lamento o estranho que em sua vida instalou
e cravou com estanho o nome de meu desagrado,
mas se é dele seu agrado
não mais o amaldiçoarei...

Porém ao seu clamar não mais responderei !

quarta-feira, 21 de maio de 2008

ALUADO (A NOITE)

O poeta precisa da noite,
do vapor que emana dos bueiros fétidos.
O poeta precisa da lua brilhante,
da lua cheia de prostitutas e beberrões,
o poeta aluado,
a lua do poeta,
o poeta pó.

E as estrelas precisam dos namorados,
dos violeiros titânicos,
do cricrilar e do sereno vadio...

O eu-poeta na minha casa
- casa sem telhados, já diziam -
na solidão da casa,
donde a ausência do vinho
e do carinho extremado da moça,

aonde a lua e as estrelas não batem em mim...

Minha casa é o calabouço onde repouso feliz,
indignado porém,
quase a cometer besteira qualquer.

Pois a noite me reseva alguma surpresa,
oh berço dos cupidos !
oh felicidade nos breus !
A noite dos gatos pardacentos,
das lendárias e dos causos,
Escuridão que abre outras flores,
devassidão dos meninos que precisam da noite,

A noite outorga o poeta para o bem-poetar.

(2006)

TUDO SE TRANSFORMA

"Eu gosto é do gasto..." (Los Hermanos)

Eu não caibo nestes mundos.
O mundo não cabe em mim
e tudo se transforma...
Sou parte da partícula que segue,
um tantão de células presas nesta sela,
no corpo que persegue lugares no espaço.
Após de ser doutor,
minhas titulagens serão apenas papéis,
e da tatuagem que sombriou-me
dou-te um pedaço de minhas ilusões...

(2006)

INFINITO CÉU AUSENTE

Assim a vida principia,
a vida precipita,
a vida pia:
Guio meus próprios passarinhos,
lá estão eles no infinito céu ausente.

Onde prossigo com as palavras
palavras cegas que enfeitam todas as luas
a sensibilidade que o homem não pode ter...

(2006)

O QUE HÁ DENTRO DE MIM ?

O que há dentro de mim ?
Um antigo caderno em que escrevo vidas.
O que há dentro de mim ?
A esperança no velho que renasce novo.
O que há dentro de mim ?
Este eu agoniado e frio, nunca desmoronado !
O que há dentro de mim ?
Sua recordação, este amor vazio, um full-house batido,
uma cola de escola, um bebê abstrato, uma criança dócil, um humano
trapo...

O que há dentro de mim ?
Intestino, pulmões manchados, ossos doloridos.
O que há dentro de mim ?
O há,
O dentro,
um mim...
O que há dentro de mim ?
você, você, você, você, você...

(2006)

OUVINDO ANTÔNIO NOBREGA

Aqui
14:54 da tarde
É domingo
O céu tá nublado
Ouvindo Antônio Nobrega:
"Truleu da Marieta"...

Tudo turvo,
tudo cego,
nada insano
o amor vence
e pronto !

(2006)

PALAVRAR

Palavrar
a palavra
lavrar
a larva da seda
ceder,
a cada momento,
uma só palavra.

Definir
afinar, ajustar
palavras...
palavrar...
esconder, sumir
agir
buscar enfim
o fim
e os finais.

(2006)

VI E VIVI

para minha amiga Viviane

Eu vi,
Vivi
palavrinha doce que
vivi,

bonequinha que me trouxe
a sensação de voar sobre
tudo que há de bom,
Vivi...

Vi e vivi,
esta coisa linda que é
Vivi,
viver é pouco ainda
pra contempla-la
aqui,
vi Vivi e venci
venci a coisa boa que
vivi,
que vive tão plena,
a sutil vida morena
que há nesta pequena,
Vivi...

A DOIS

Nós
a dois
um nó
união
dois corpos
apenas dois corpos
ocupando
espaços e dimensões
uma estrela...

Um botão desabotoado
um botão de rosa
descolorido
A dois
ferido,
mordido,
cedido,
eu e você
gravado
eternas eternidades
num tronco
de árvore...

Nós
por anos
por uma vida inteira
ou meia
uma lua cheia
um sol nublado.
A dois
somente
num dar de mãos
andar num passo
no compasso frio,
das mãos entrelaçadas
em dias gélidos
dias ímpios
dias sãos.

A dois
apenas
instante breve
intensidade viva
eu querendo
você querer
tudo tão assim
sem nada
acaso
por acaso
já revelado
pelos oráculos
destinados
a nós
dois.

(2006)

SUA (SÓ PORQUE AINDA PERSIGO UM POEMA DE AMOR...)

Ao som de "Minha flor, meu bebê" (Cazuza)

Sua voz calada,
sua cálida presença em mim,
sua marquinha de vacina,
sua face que fascina,
suave menina
menina botão de flor...
Sua melindrice qualquer,
sua insistência no não,
sua insanidade em horas sensatas,
nossas serenatas
a lua testemunha
tudo comunha:
eu e você.

Sua voz contida
sua risada cantada
sua hipérbole descontada
sua concha do mar...
Sua pele, tênue pano
sua fragilidade de porcelana,
sua força descomunal,
sua coisa de criança,
sua maturidade que me dá moral,
sua castidade macula,
sua pureza.

E é só porque ainda persigo um poema de amor
E é só porque sou seu de alguma maneira,
seu sua
suada sina
sinal que se proclama
ardor de quem ama
dor do que chama
sem nada aclamar
apenas amar
esta sua
sua estátua que firma meu pensar,
sua doidivana imagem nos meus sonhos...
Sua, apenas
pena de mim
dó do desejo
ensejo de ser só seu.

(2006)

A ROSA

Caminho
por mim
e vejo-me
transcender...
Quão pessoas ainda não verão
o verão
desbrotar
no roxo
da rosa ?
Sou abstrato
invisível,
sou uma lágrima
um lápis que pontilha minha vida

sou o deus do meu destino !

A rosa
ainda
tinge
e finge que é uma cor
uma flor
um amor de menina...
A rosa cumpre
a ínfima
missão
sã e salva
do salmos
que conclamam:
Tudo, meus queridos,
passará tão pueril
que navios
e pavios
serão nossos últimos redentores
de dores
e consolos.

(2006)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

MATEUS

poesia do meu amigo Gibran, posta na comunidade do orkut feita pelos meus fãs...

Mateus queria o viver
mas não era um livro em branco
Mateus queria o saber
mas nao é um livro fechado
Mateus queria o poder
e porque porque purque purque...
...ele precisa ser um out dor

um livro em branco não sabe

um livro fechado não mostra

um outdor sim, para levar ao mundo a sua mensagem

QUERO SER UM BARCO NO SEU MAR

mais um para Camila...

Quero ser um barco no seu mar,
pouco importa em qual direção você me leve,
pras suas tormentas ou suas calmarias,
quero seguir sempre ao teu lado,
mesmo num mar agitado,
mesmo por caminhos que ninguém se atreve...
mesmo que haja trevas,
ou liras para encantar meus dias
quero ser um barco no seu mar,
ser arco e seu alvo acertar
Quero estar contigo, salvo
Quando meu barco atracar...

Quero ser um barco no seu mar,
não importa seu estilo de amar,
quero estar sempre perto de seu contato,
estar na sua, boca a boca, tato a tato
ter suas luas, suas inconstantes fases;
Quero encostar-se à sua face
e, bem baixinho, falar:
não importa seus inimigos,
quero apenas estar contigo
e ser um barco no seu mar.

terça-feira, 13 de maio de 2008

COINCIDÊNCIA DE AMAR

Como do nada, passo em frente ao quarto de meu filho do meio, catorze anos, cabelo de surfista, já com o dobro de minha massa muscular. E deparo-me com o próprio tentando pegar as batidas duma antiga canção do Roberto. Como num salto, meu coração disparou... Os acordes ainda desafinados de “As canções que você fez pra mim” me fez pensar que tinha sido esta música que aprendi tocar no violão para conquistar Élcia, a mãe deste marmanjo que agora se desdobra em aprender as mesmíssimas notas, errando na letra, indo e voltando no processo experimental de decifrar aquilo que o coração jamais traduzirá em batidas vãs.
A reminiscência é inevitável. Vejo-me no fim dos anos 60, muito talvez parecido com meu filho, estilão hippie, muitas vontades na mente e ideologias por seguir. Penso no quão bonito era ter sonhos, no tanto que eu era em ser puro... Seguíamos as ordens de Vandré, contudo sem perder a ternura jamais. Rio baixo, observo meu filho. Ele também me vê. Ficamos em silêncio por um instante, porém dizendo muitas coisas que não falaríamos se tivéssemos voz....
Aproximo-me dele, sento em sua cama e dou-lhe um beijo na face. Ele ainda me observa, agora com um olhar curioso. E então dedilha algo tênue, um mínimo de toque e pára. Suspiro e pergunto como ele está. O cotidiano não nos permite momentos como estes. Ele responde-me que vai bem, mas que está com dificuldades em pegar a música no violão. Retruco perguntando o porquê de tal interesse em tocar exatamente esta. A resposta é instantânea: “Ué, pai, porque achei bonita...”. Afago-lhe os cabelos e questiono-o se não haveria um segundo interesse. Ele sorri envergonhado, baixa o rosto em direção ao violão, e logo diz que sim. Não pergunto o nome da garota, mas ele me adianta de que ela era muito bonita, a mais linda do colégio, quiçá do mundo... Ah, esta verve dos apaixonados !
Peço o instrumento, coloco-o no meu colo e antes de ensinar as técnicas certas, ainda observo meu filho. Vejo o quanto ele cresceu e o quanto eu envelheci. Percebi o quanto é bom tudo isto. Meus cabelos não se parecem mais com os dele, já tenho rugas e muitas histórias guardadas nos baús dos tempos. Contudo, encanto-me em ver que nosso olhar ainda permanece com a vivacidade de outrora. Há algo de resplandecente nas nossas pupilas, na cor destas, no desvio de nossa vesguidão, no emblema do amor que é notório e cuspido em nossos semblantes, nesta coisa mágica que é a coincidência de amar... Ele ainda me pergunta se dói estar apaixonado. Digo-lhe que basta vivê-lo, e tudo mais será sanado... Deixo o recinto devolvendo-lhe o violão, apertando sua mão, dizendo burocracias do tipo apagar a luz ao dormir ou lembrar de escovar os dentes, olhando-o mudo e pensando no qual feliz somos. Sento em minha poltrona, abro o livro em qualquer página, mas deixo-me guiar pelos pensamentos duma coisa velha guardada, cheirando a ácaro, reciclando-me por inteiro...

quinta-feira, 8 de maio de 2008

MUDO

"Eu canto porque o instante existe / e minha vida está completa / Não sou alegre, nem sou triste: sou poeta." (Cecília Meirelles)

Não falo, escrevo.
Não tenho voz, tenho punhos:
por isso sou mudo
por isso digo muito,
meu silêncio tem o grafite das grandes retóricas,
meu verso, sangue...
Se acaso descobrir-me
será nos meus escritos,
dito no dito, quieto e mansinho
escondido no fundo de uma gaveta
ou a sete chaves de um diário.

Não conto, descrevo.
Guardo, porém exibo-me.
Pois todo aquele que risca
quer o risco da fama,
quer ser escutado no papel rasgado,
quer a luz das sombras.

Pois escrevo para o outro,
para aquele que um dia lerá minha imaculdada chaga,
escrevo para o elogio,
desejo o beijo após grafitar meus sentimentos,
escrevo porque há instantes e Cecília.

E escrevo, ora memorializo
desmoralizo minha crédula fala
falo mudo, porém grito.

(2006)

NUNCA É TARDE PARA SER CRIANÇA

para os bons tempos de Trem e Balão...

Brincar, brincar
brincar e pular
o carnaval
a corda,
o acordo...
Esquecer do mundo,
vagamente saber ser
um taciturno, um tácito noturno
soturno diário
e o tempo, arcaico
desvenda o novo
na ruga
na fuga
na figa
no "fica comigo"...

Nunca é tarde
para ser criança
para o ser criança,
para a criança adormecida nos umbrais de nosso ego.
Tais e tais, coisas sociais
Tias que cantavam lengaslengas para o nosso merendar,
fazer do coração "din din din din don don".

(2007)

terça-feira, 6 de maio de 2008

A MINHA MINA

para Camila, meu atual acalanto...

A minha mina tem um carinho toda dela,
um sorriso só dela, destes que encantam tanto...
a minha mina é tão menina, mulher, feminina
coisa boa, uma boa conversa
o que me afaga e me prende...

A minha mina tem uma força que me sustenta,
uma ligação que me magnetiza,
aquela felicidade extrema, alvo na direção precisa,
minha mina é algo que cintila,
minha mina tem nome: Camila...
estrela de cabelos rubros, feito vulcão
destes que, depois da erupção
destrói qualquer senso de tristeza que me atormenta...
Minha mina é tão linda,
mas tão linda, tão linda
que a palavra até finda
e nada expressa tal beleza...
Minha mina me embeleza, pois todos vêem meu sorriso !
Minha mina é um tesouro,
um lugar guardado de ouros, uma descoberta, flor aberta terçã
minha mina é ver desenho num sábado pela manhã
minha mina é falar de desenhos e de infâncias...

Minha mina,
esta só minha
é maior que este poema...
Minha mina é canção do Roxette que sempre ouvirei...
minha mina,
minha...
te adoro !

sexta-feira, 2 de maio de 2008

TARDO FINS DE TARDE

Ser fada é fado
ser nada, um nado;
bem que poderia ser fardo,
um ardo,
tardo fins de tarde
para propôr
mais um pôr-do-sol...