quarta-feira, 21 de maio de 2008

ALUADO (A NOITE)

O poeta precisa da noite,
do vapor que emana dos bueiros fétidos.
O poeta precisa da lua brilhante,
da lua cheia de prostitutas e beberrões,
o poeta aluado,
a lua do poeta,
o poeta pó.

E as estrelas precisam dos namorados,
dos violeiros titânicos,
do cricrilar e do sereno vadio...

O eu-poeta na minha casa
- casa sem telhados, já diziam -
na solidão da casa,
donde a ausência do vinho
e do carinho extremado da moça,

aonde a lua e as estrelas não batem em mim...

Minha casa é o calabouço onde repouso feliz,
indignado porém,
quase a cometer besteira qualquer.

Pois a noite me reseva alguma surpresa,
oh berço dos cupidos !
oh felicidade nos breus !
A noite dos gatos pardacentos,
das lendárias e dos causos,
Escuridão que abre outras flores,
devassidão dos meninos que precisam da noite,

A noite outorga o poeta para o bem-poetar.

(2006)

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