quinta-feira, 8 de maio de 2008

MUDO

"Eu canto porque o instante existe / e minha vida está completa / Não sou alegre, nem sou triste: sou poeta." (Cecília Meirelles)

Não falo, escrevo.
Não tenho voz, tenho punhos:
por isso sou mudo
por isso digo muito,
meu silêncio tem o grafite das grandes retóricas,
meu verso, sangue...
Se acaso descobrir-me
será nos meus escritos,
dito no dito, quieto e mansinho
escondido no fundo de uma gaveta
ou a sete chaves de um diário.

Não conto, descrevo.
Guardo, porém exibo-me.
Pois todo aquele que risca
quer o risco da fama,
quer ser escutado no papel rasgado,
quer a luz das sombras.

Pois escrevo para o outro,
para aquele que um dia lerá minha imaculdada chaga,
escrevo para o elogio,
desejo o beijo após grafitar meus sentimentos,
escrevo porque há instantes e Cecília.

E escrevo, ora memorializo
desmoralizo minha crédula fala
falo mudo, porém grito.

(2006)

Um comentário:

Anônimo disse...

Assim vc descreve como ser poeta...
Abração Mateus!