segunda-feira, 21 de outubro de 2013

APRENDIZ


pestes das pestes:
rupestres diários que não decifro,
hieróglifos que não consigo ler...

aerólitos em forma de tufão,
surreais e irritantes
crias reais,
do zero aos décimos
no íntimo do desmazelo:
não quer, não faz
reclama quando perde
quer tudo com voracidade sutil,
sádicos que se dizem mágicos,
agitados em suas carteiras de aprender,
não respeitam o mestre,
não acalantam o destro,
destroem qualquer racionalidade,
distorcem a lógica com morfológicas
e repetidas pantomimas...

são anacrônicos, tecnológicos
não sabem, mas desafiam os saberes
querem com avidez, duma vez e várias vezes
 os sabores e as carnes,
não discernem  quaisquer cernes,
deixam vazios as lacunas, as alternativas
me levam a loucura com borrões,
fazem valer os meus tostões
e avos que ganho com cada fração, frases e freios...

sem luz, iluminam silêncios:
tabulas rasas, rasos e profundos ;
são fábulas que desistem das uvas
por não terem luvas
nem a disposição de subir;
anjos, filosofam
pedem colo, esbofeteiam
dão beijos e brigam,
professam, anarquizam, obedecem
choram...

ainda sim estão a me enlouquecer,
a cadenciar algo em suas cadeiras,
estojos, estorvos e pretensões:
grafites, deixam marcas
tintas, fintam olhares
em busca do desafios,
urinam mais do quem suam,
somem sem desmedir:
lá estão, sentados
futuros dizendo presente ,
anotando linhas, traços,
um troço de conversa
num blá-blá-blá infernal, sem fim
sem ponderação, gastando salivas e alívios...

assobiam, jogam papel
voam num avião de papiro,
se sujam, se lambuzam,
fazem do chiclete seu emblema,
das cenas, o seu drama...

não se enganem: sabem seduzir
são feitos de enxofre,
emanam celestiais culpas,
se inocentam num dizer mais sussurrante...

se prende no que diz,
infante, ainda aprendiz
da vida só sabem o instante,
não pensam em antes ou durantes,
tudo dura o efêmero,
o mero acaso,
não permeiam o esmero...

VÍCIO DE VINICIUS



Pros 100 anos do grande Poetinha, Vinicius de Morais... Saravá !!!

lá vem o Poetinha a nos encantar,
com seus doces versos de embriagar
fazendo da vida algo por sorver
e ver em cada mulher, um labirinto a se perder...

amar a lua, boêmia e branca
de ancas negras, sensualidade e trança,
ondas do mar como uma dança torpe
o tempo quando,  quarando quereres...

sem você, Poetinha
o mar perde seu azul,
os calçadões, a sua bossa
o violão fica sem bailado,
e tudo mais, sem encanto...
o canto mais mudo,
o mundo mais senil, abstêmio
o copo de uísque, perdido,
torna-se um vazio cheio de ar...

mas na cadência do lápis,
no bamba dos versos,
vício de Vinicius,
vontade de emaranhar-se em seu mar,
em seus artifícios,
sabendo que assim você é imortal, posto que é chama
lendo e sorvendo de seus prazeres,
de suas carnes, de seus seres,
sendo a sede, água de beber
sendo a fome, olhos da amada

estrela que trela inquieta,
ouvindo sua voz pacata e rouca,
poeta, Poetinha, vagabundo
se todos fossem iguais a você ?
não, será único
eterno como ternas tardes,
ou como a noite que arde,
como o poeta diminutivo de carinho,
viniciando nosso instante de estar.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

SAUDADES DA MINHA AMADA


Num trecho Vitória da Conquista-Feira de Santana...

O sol se põe - veja da janela,
caminho sem meus pés,
saudades da minha amada...

Revejo o que vivemos,
não há prismas:
apenas meus olhos fechados,
embebidos de lágrimas e falta,
saudades da minha amada...

A noite adentra, mansa
tenho agonia de chegar;
cá dentro, uma agonia descomunal:
saudades da minha amada...

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

(RE)VOLTAS


não me leiam, não me leiam !!!
sou lavagem de porco, excremento, lixo, bosta...
não me leiam, não me leiam !!!
minhas palavras não merecem um like, um conto furado,
um post bendito, nem ser paradidáticas de postes,
nem uma reprodução em caderno de moças, nem uma recital banal,
não merece uma fala, uma cala, um samba,
um comentário tão breve, uma greve de Estado,
nem mudança de estado, nem gelo ou gás...
nem críticas do Tas, nem uma tarja qualquer,
nem lápide ou discurso,
não mereço mais nada
não me leiam !!!
não me leiam !!!

não leiam meus esboços, meus esforços
meus fundos de poço, tudo o que faço
não leiam, não leiam...

escarrem no que digo,
esporrem, esmurrem,
apedrejem, multilem
não leiam, não leiam...
esquartejem meus ditos,
linchem, castrem, cortem-lhe os pulsos
enforquem, vomitem
urinem, caguem
arrotem, faça tudo de mal
chicoteiem, amaldiçoem
lhe neguem abrigos, façam-lhe eutanásia
lhe causem azia, uma ânsia, uma amputação
queimem em praça pública
todas as suas túnicas, sua nudez,
sua mudez recolhida, seu grito de pranto,
causem-lhe espantos, espanquem, desbotem
tirem sua casca de ferida,
apodreça na vida, abortem e decepem
não leiam, não me leiam
me esqueçam no vão escuro,
lhe façam mil furos, chagas e pragas,
atropelem, infernizem
baguncem, envenenem
não me leiam, não me leiam...

cá estarei escrevendo,
ainda escrevendo,
serei masoquista do agouro,
não deixarei minhas linhas,

estarei aqui, me leiam
estarei aqui, me leiam...
estarei aqui, me leiam...

O SUBORNO DO GATO



E chega o torpedo do homem. A namorada está deitada, o gato em cima da sua barriga. A preguiça, a distância do aparelho (quiçá até a sua não localização), o ronronar do felino... Como é felpuda, pelúcia e gostosa cada partezinha do animal, o pêlo espesso, as ações e contrações do bichano... A namorada pensa: “tenho que responder...”, “tenho que responder...”, “tenho que responder ?!”, e o gato a andar gostosamente por entre o corpo dolente da moça. “ah, vou deixar pra depois, daqui uns minutos, uns minutinhos, não demoro, daqui a, ahhhhh...”, o gato esfrega e espreguiça-se na área quadrada daquela que deveria ser do homem, homem distante, pinta o grilo: “ah, devo torpedar, ele espera resposta, devo ahhh... pára, bichano, pára...”. Ela fecha os olhos como num flash, fecha-os num flash, parece enxergar mesclado a realidade e o sonho que virá... Um mosquito macunaíma, o sofá tá bom demais, verões virão mais tarde, deixa-os...
Chega o segundo torpedo do homem. Pelo curto tempo entre ambas, certamente é grave, a namorada têm que atender, o gato suborna-a com carinhos e jeitinhos, meiguices e patinhas ajeitando uma cama invisível pra dormir. Cai uma chuva, ela percebe pela janela, tudo é propício prum princípio de sono, um sono sonar, nana neném... Ela boceja, arregala os olhos querendo ser mais forte que a malemolência, o gato lhe faz uma massagem inconsciente e natural, “se ele torpedar de novo, eu respondo...”
O homem torpeda pela terceira vez. Aquele barulho do celular se torna martírio, tudo está bom demais: o gato, o sofá, um dormir... “é, posso dormir e aí terei um argumento... não, não é justo enganar o menino, ah meu homem... deixa de ser chato e se entregue a beleza desta fleuma, desta lombra...”. Falou isto e pensou em enrolar um bagulho, fritar um nugget, mas este maldito e delicioso gato, esta gastura, esta gostosura, este gato andando pelo mapa que agora ela era... de repente se encomoda: “se não chegar mais torpedos é bom... mas isto pode significar que ele está puto comigo... ou que se cansou e resolveu sossegar, o que é bom... será que bom mesmo ?! Ah, gato danado, saia... gato gostoso, saia, não não, fique... ande mais, massageia-me... massageia-me como as mãos do meu homem, assim... ele ficará feliz em saber que pensei nele nestas horas... mas como ele vai saber ?! tenho que torpedar, Cristo me dê forças, ah que delícia...”. No seu segundo bocejo chegou, em segundos, o quarto torpedo do homem... mas podia ser da operadora de celular... ou da irmã, dum amigo, uns daqueles golpes que promete mundos e fundos... não, certamente era dele, tava no horário, não sabia as horas, o tempo, seria boa noite ?! O gato resolve dormir em seu dorso, a namorada pensa e repensa: “vou, não vou, santa preguiça, meu Deus !!! Ai, dá pra tirar o gato bem de leve, ele nem vai acordar...mas tá tão ótimo aqui, pregui...”. Mais um quinto torpedo e seria uma guerra !!! Mais um torpedo...
“não, tenho que atender mesmo...” e o números de “es” acompanhou o seu próximo sossego, os olhos mareavam, Morfeu a chamava, o mofo, a chuva, o frio, os pêlos do gato... o apelo agoniado do homem, o drama que fará, arma do amar ?! não quis pensar em poesias ou teorias, queria uma hercúlea força de vencer as manobras desta moleza... e então dormiu...

sexto torpedo do homem...

sétimo torpedo do homem...

último torpedo do homem...
ela acorda com o corpo virado, contorcionista ao estilo possuída de “O Exorcista”, baba escorrendo, olhos com remela... olha pela janela, não sabia distinguir lua ou sol, o gato já saíra de sua barriga, agora dormia num canto quente do quarto. Lembrara que sonhara com vôos, sorriu e levantou espreguiçada... mexeu o pescoço tentando estralá-lo, estralou também as mãos com leve facilidade, olhou um canto e outro, colocou suas havaianas e foi ao banheiro. Fez suas necessidades, tomou um banho gelado, lembrou-se dum trabalho de faculdade neste período e apressou na escovação dental. Penteou o cabelo, olhou-se no espelho, passou desapercebida pelo celular...
coçou a barriga do gato, a sua própria, trocou de camisa, destrocou-a por achá-la inapropriada, pensou em ver as horas, mas censurou-se num “não sou obrigada”. Sentou na cama, observou a bagunça, ligou o computador e pôs uma canção das suas favoritas. Cantarolou alguns versos, riu sem saber do quê, lembrou do homem... tinha algo que devia lembrar, seria o homem ?! o gato acorda, sobe em sua cama, adestra um carinho, ela responde com sua mão destra, disse-lhes mimos e rimas tolas, espanta-o logo depois com um “xô”. Ao pensar no trabalho acadêmico, lembrou do celular: “putzs, o celular...”, e levanta sem calçar as sandálias, procura-o dizendo vários “deve estar aqui...”, encontra chaves, um bloco de anotações, lê um recado do amigo de apartamento dizendo ter ido comprar algo no mercadinho, uma filipeta sobre um curso de informática... acha o celular, se assusta com tantas chamadas, lê a primeira, rapidamente a segunda, um pouco com desdém a terceira, pula a quarta – já deduzindo repetições de assunto -, abriu e fechou logo o quinto, desistiu no sexto... pensou no que escrever, seria breve mas sincera, como sempre fora... lá fora fazia calor, abriu a janela e sentiu o mormaço seco entrando como bafo, falou um palavrão, olhou pro visor, parou no meio da palavra e deixou tudo para amanhã.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

AFLIÇÕES


aflições,
aflitas ações,
convulsões neste não saber...
tão sedento de você,
ser redentor deste caber ,
acabar com o doer
que silêncios e falta de escribas
venham a trazer...

...do drama que faço,
do karma que destino,
o circo que armo,
a arma e o tino,
piegas palavras que prego...

ter a surpresa do toque,
terei então a premissa de que você está
e assim, não há nada que eu troque:
nem rock, nem níquel
nem o nível maior de insanidade,
nada na cidade é mais valioso
que o traço gostoso do seu tom,
a mudez  que sua palavra me diz,
miudezas que me ofertam riquezas,
certezas que o dia será verdadeiramente bom.