terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

VOAS, PÁSSARO


"O amor é isso. 
Não prende, não aperta, não sufoca. 
Porque quando vira nó, já deixou de ser laço."  (Mário Quintana)

(Vi no Facebook e achei que me completava deveras...) 

Voas, pássaro
teu canto bom não se completa em minhas gaiolas,
cantas bem em teu canto, na tua liberdade de voar...
rimo infinitos infinitivos,
procuro teu canto, mas já não há motivos
na prisão de meu corpo não cabia mais teus sonhos...

- porque quando vira nó deixou de ser laço,
assim dizia o passarinho...

SUA DIÁSPORA


apurando sentidos,
sou amputado destes sentidos,
mantido ainda no âmbar
de que somos um par,
destes tão ímpar, incomum...

então olho as coisas sem seu olhar,
imagino o que vi sem seu ver,
viver assim é estar desvalido...

sua marca não há,
tudo fica gris e sem sabor,
sua diáspora de meu ser me seca,
desnutre, deserda...
deserto fico sem você por perto,
falta seu toque, seus tiques, seu look...

e um sinal verde me dá stop:
percebo que da sua atenção não sou mais top,
sou reles, uma vaga lembrança, um desprezo...

sigo assim num eterno lembrar,
negando-me para não afirmar,
buscando vida em tais escombros,
rastejando sombras para me escorar ombros,
entre meus ais, enveredar meu coral
parece banal,
mas meu pecado foi amar demais...

TRÍADE


amar como mulheres buarquianas...
como amar mulheres buarquianas?!
tê-las de forma rodriguiana...
mantê-las em fama rodriguiana...

e desconfiar delas sempre com olhares machadianos...
mansamente machadianos,
lânguidos, dissimulados...
emulados, lado a lado, imaculados,
colados e desconfiados,
maltratados à assinar
mambembes linhas do tratado:
toda mulher tem si o seu destino,
o tino dos músculos, do maiúsculo,
da força uterina que lhe faz tão dominante,
a fúria errante e a precisa calma...

toda mulher de ar buarquiano,
de hiato rodriguiano,
dum calar machadiano...

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

HAIKAI VAGABUNDO SOBRE FORMIGAS


Pr'aquelas que sempre invadem o açucareiro da minha casa...

As formigas andam em fileiras de dominó,
dominam o mundo aos milhares, trotando e em pique,
num tique, atrapalham minha sola e acabam o piquenique...

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

DE ÂNGULO


assim reparo:
se minha vida der ré,
derreto, paro...

então compreendo:
não há nada que compre
no qual me apreendo...

ou me prendo,
aprendo e desaprendo:
sou prenda de mim mesmo.

TRECO RUIM


agora que somos silêncio,
agora que não tem voz nem vez,
agora que não há outras vezes,
agora que não é outrora,

sou agora passo vago,
vaga inútil, senil sutileza...

agora que não há esperas,
agora que já desfiz a mala,
agora que raspei a barba,
agora que sou findo,

tudo é embriaguez insana,
traço torto, treco ruim
rum inconsequente, um hum eloquente,
ahan insosso, um oi sem ais...

agora que não é demais,
agora que já foi,
agora que vai sem volta,
agora que não me dá escolta,
agora que não quero mais.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

MARASMO


Feito mediante fome...

tudo lento,
a conexão
a flexão
o desalento,

tudo atento,
o tanto
o contanto
a contento,

marasmo,
sarcasmo, qualquer asco
todo átimo, um átomo de fiasco
fio do tempo, têmpera do frio;
tempero da minha vida cálida...

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

(AR)DORES


Porque um blues doído sempre traz saudades de alguém...

sua lembrança inconsciente vem sempre em momentos insípidos,
nas horas inodoras em que descanso e que quero esquecê-la;
em instantes antes tão nossos, na falta do voltar,
na ausência dos nomes,
na sua voz ainda presa em minha garganta...

a coisa quântica de senti-la cintilante,
aqui no quarto, vazios de minha cama,
este desvario de sentir seu peso,
seu abraço a adormecer meu braço solitário...

sei estarmos tão distantes,
não como antes: uma distância relativa,
tão perto, poucos caminhos...
longe, tão lounge: lá lhe encontro,
você pode voltar ao ponto,
eu, pronto, num mapa qualquer...
um passo, somente...

ardores de dores suaves, cândidas...
bandidas noites que traficam
estas coisas que ficam, estancam:
é na madrugada que percebo seu olhar,
a insônia que me fortalecia,
me entorpecendo de fumaças, suores e terapias...
nossos dizeres de prazeres,
seres que apenas evocavam o amar
ou um crescer infante,

feito o peito que me acudia, coração
perfeito dia que sabia ser seu,
céu estrelado atrelado ao seu lado,
este lado meu, apenas uma face vazia
que observo...