segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

CHEIO DE VAZIOS

nada
me anima
nem ânima,
nem prisma...

nada
me comove
nem move
sem cismas...

nada
me convence
ou vence
este meu não-voar...

nada,
nem a calçada,
a ausente namorada,
o comentário que não veio,
a palavra sem um meio,
termo sem esmo,
nem a voz da Nina Simone,
nem o coração fadado,
nem a estafa, o cansaço...
nem o braço que me dá força,
nem a fraqueza de minhas franquezas,
nem a mentira que soube coibir,
nem o colibri, o brilho diáfano,
a canção ao piano, a oração ou oblação,
nem a ação,
nada, nada..

a vontade de sumir,
de subir, de estar,
o desejo de ser
de descer, de crescer
de ternurar, purificar
(catarse ou neurastenia ?!)
danificar, ficar, ficar...

se a mulher, se...
se o seio, se...
se o reconhecimento
não desse ré,
freio do que sou, ser feio
sem reflexos no espelho,
mil complexos com nexos,
sem sexo, “meu amiguinho...”

nada, nada...
cheio de vazios
cheiro do asco, do desamor
do dissabor acre,
cansado de cada acréscimo ou milésimo
de ócio, de apatia,
do que não acontece...
nada acontece...
nada...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

(UM TANTO DE...) LÁBIA

meu bom gosto
não garante o gosto bom
dos lábios e dos tons,
dos suores ou dos amores,

minha deidade
minha flor da idade,
meu fluir...
meu querer bem
não me concede um bem,
um alguém, um mera mulher
algo qualquer, um mínimo querer...

ninguém me enxerga
ninguém me vê
sou nulidade, sou vão...
apenas amigo,
um homem a menos,
nem ao menos um lábio,
posso até ser sábio
mas minha testosterona
não diz nada, não serve, é vil...

talvez me falte um tanto de lábia:
não sei os dizeres que seduz,
os ditames que conduz
um corpo ao abraço,
braços para um laço, uma união...
quiçá gagueje, fale bobagens
seja intraduzível ou emudeço
diante dos dorsos em totens...

ou seria eu sádico nisto tudo?
sinto, demagogicamente, prazer no desamor?
será que me tornarei nulo
quando o amor, for pra mim, algo chulo?

quem sou no amor?