sexta-feira, 21 de março de 2014

FAMILIARIZADO


Feito por encomenda para um evento da escola em que leciono...

família,
algo entre pessoas e mobília,
da alcateia à matilha,
coletivos de amor entre paredes
e parentes...

no cheiro vindo do charuto da avó,
a mão molhada no enxague da mãe,
o enxergar míope nas letrinhas do jornal,
grito espectral na hora do não,
barulho íntimo no corredor;
a história passada entre fotos
e contas pendurados no imã do refrigerador,
fatos lembrados, esquecidos, premeditados
contos da bisa, resenha no quarto
tudo familiarizado...

pra tudo o que esvai,
pro professor que também é pai
o mais afinado acorde da redondilha,
acordo já firmado desde o cordão:
família.


segunda-feira, 17 de março de 2014

PRA NUNCA ENTENDER



Para Fernanda

A doce menina virou mulher:
dama e puta num só ser,
e o sangue que veio do gozo,
o instante que cala o canto,
o gemido que inebria o desejo

a força mágica das horas,
a espera e o peraí,
seu prazer sádico de retardar banhos,
de rir do meu pânico,
o beijo, o toque, o corpo
e as almas, palmas da mão,
tato, olfato, paladar,
cada centímetro por explorar
do seu dorso moreno, da sua pele macia
um senil olhar de um olho cândido,
a saciedade na saliva do bandido,
a suavidade do estranhar de um transeunte,

é vizinha, está na janela,
mora na minha rua, nos meus espaços,
cataloga meus passos, deforma os meandros,
e bela, parece apenas querer mudar...

E mudou seu mundo,
mudou a gente,
muda, no silêncio da maturidade
transformou-se na antípoda da borboleta:
virou casulo, anulou-se, azulou-se
abrigo do seu próprio refúgio,
presságio de seu próprio seguir,
ufana, diáfana, virou mulher
sem perder, jamais, suas ternuras.