Para Manoel de Barros
lembro-me, em tempo de menino,
quando diziam que não se podia engolir semente de melancia,
senão outra crescia dentro de você...
e lá ela crescia, crescia, crescia...
até explodir e te estrangular.
Tinha medo então,
e por isso as chupava com extremo zelo...
era um misto de prazer pelo sumo escaldante colorado
(tal qual o infante Buendía em seu primeiro contato com o gelo...)
com o austero esmero de não cometer tal deslize cabal.
Até que um dia - por mera distração ou entregue ao hedonismo rubro
e brilhante da carne em fruto –
engoli da sua semente.
Desesperei-me, tremi em temor, não dormir, não sorri...
não queria a morte eminente...
placebamente senti náuseas, Negra Nhá deu-me banho de ervas...
até que a semente saiu pela natural via escatológica...
achei tudo aquilo chato, perdeu a graça, muito real...
ver o mundo com olhos cegos
fascinavam as vísceras do meu ser.
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