sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A MULTINACIONAL

“As multinacionais têm filiais
em quase todo o mundo,
mas mantêm suas sedes
no país de origem do capital...” -
assim me diz o informativo,
assim sei, captei,
gravei e grafitei de alguma forma
em meu coração...

mas a multinacional não têm coração;
ela nem se importa com minhas dores
de dente ou de amores,
nem se sonho com a lúdica ou com milhares
que não me escrevem, nem gravam
um rock'n'roll qualquer...
a multinacional só enfeia meu ar,
só arranha o céu acima de mim,
a multinacional apenas cai – e seus ais
são mais cais
que minhas tristezas sem filiais...

a multinacional não conhece certezas,
nem as purezas das minhas entranhas pagãs,
a multinacional não quer o amanhã ou
as estranhas que me afagam na febre terçã;
a multinacional que ser placa,
placar de vantagem sobre minhas vertigens,
a multinacional assassina as virgens dos homens-bombas,
a multinacional engarrafa o trânsito,
transita sobre as garrafas de cerveja,
a multinacional quer ser capa, veja...
a multinacional quer épocas e caras,
as caras coroas, as máscaras dos seres...

a multinacional doma o poder,
toma meu doer
doa o que é interesse, 0800, um milhão e tal...
a multinacional vem de longe,
tange a tangerina, azeda meu almoço,
faz-me engolir troços, caroços,
amarra meu cadarço, amarrota meu arroto,
amordaça minhas traças, sorve taças e laços...

a multinacional rouba o brilho da lua,
tapa o sol sem ser Ícaro,
torna-me cego pícaro,
trago fumaças no meu respirar...

a multinacional grita, eu ouço
a multinacional pinta, eu admiro
a multinacional exige, eu visto
a multinacional anuncia, eu - à vista - passo Visa
a multinacional visa, eu alcanço...

e assim, atemporal,
no casulo meu,
me traz saudades do que não vivi...

Como pode ?!

Nenhum comentário: