quinta-feira, 4 de setembro de 2008

VERSOS, INVERSOS (ABISMO DO POÇO)

O poço esconde
o rosto refletido;
e o tempo vencido,
passa quão vento destemido,
destruindo meu invencível
castelo de cartas.
O segredo na luz do sorriso,
do abraço, do abrigo,
cato cometa no pequeno céu -
o teto sem forro do casebre
e no jardim, a esperança
mora lá, vazia, preenchida da fé.
E alguém me diz
que nada pertence-me mais
do que meus sonhos,
talvez escuto o eco de minha voz
ou há alguém no poço...
Prefiro crer no invisível,
pois até no fictício há realidades
e, enquanto rabisco o chão,
o céu também é rabiscado.
Meus versos, inversos
só o poeta lê o nada,
só o poeta vê pequenos detalhes.
E o poeta é o velho violeiro,
cego na porta de Deus,
vendo-se no abismo do poço.

(2002)

Nenhum comentário: