segunda-feira, 17 de março de 2008

A POLÍTICA APOLÍTICA DO SER

Bem, não sei se sou o mais indicado para escrever um texto dito politizável: o que sou neste mundão ?! Apenas mais um cidadão, destes clássicos que proclamam de peito aberto que detesta política ?! Quem sou para criar um misto de coragem e vaidades e querer escrever algo com tamanho teor ?!

Talvez seja por ser um cidadão, mais um da “polis” chamada urbana, por pertencer a grupos sociais, por ter documentos, impostos por pagar, uma família que me representa e ao qual represento, por ser de várias gerações do futuro - destas de impulsionar um país -, por ser gente, animal político, mais um na multidão, um de coletivos, parte de Deus... Por ter amigos, parentes, colegas, alunos, patrões, empregados, por tá num planeta cheio de racionalidades e justiças, leis e instituições, por criar anarquismos, socialismos, capitalismos e “ismos” que em nada possam me interessar de imediato. Por ser de guerra e de paz, da embriaguez e do sério, de Cristo, ateísmos ou Shiva, de qualquer Zé Pequeno, de todos os semelhantes, do mendigo que não noto na rua - ou até noto e escondo-me na cega visão da realidade-fome-antiética -, na minha total falta de humanismo ou no amor ao próximo que nunca demonstro, mas sinto... Talvez por não ter estudado tanto, não ter lido quase nada, por ter trepado sem camisinha de vez em quando ou por nunca ter aplaudido um cordelista, por tudo enfim, a política apolítica do ser exposta em carne, urubu e senso nosso.
Prazer, sou apenas um. Mais um, menos um, um zero a esquerda, um zero que aumenta os dados estatísticos populacionais... Tem horas que sou número em código, noutras sou o filho do meu pai, em alguns momentos sou gatinho, sou eclipse, uma metáfora, um poema pelo qual algum poeta vagabundo homenageou-me sem motivos aparentes. Contudo moro num lugar, numa cidade perdida no Google Earth e que algum menino espinhudo vigia da tela de seu computador, num ponto do mapa ou na placa de alguma estrada. Voto, exijo, jogo papel nas ruas e muitas vezes me dá uma puta vontade de xingar policial na cara. Pinto a cara e deponho presidente, escondo meu rosto quando senador é absolvido, choro quando a seleção perde na Copa, digo em claro e bom tom que não existe político decente... Gosto de Jorge Ben e uso All Star. Tô nem aí pra Amazônia, pra reuniões do G-8 ou pro fim do gerúndio na gramática oficial. Até me dá uma safada emoção nos primeiros acordes do hino nacional, mas e o índio ?! O sistema de cotas, a transposição do São Francisco, a violência das grandes metrópoles, crises do avião e tudo aquilo que o almofadinha do William Bonner diz na TV enquanto meu pai cochila e eu fico vendo orkut trancado no quarto ?! Que papel tenho eu, você, a menina que queixei e que nunca quis me dizer sim, o adolescente de hoje, os velhinhos de amanhã ?! Definitivamente não sou o cara pra escrever esta resenha com título chocante e, talvez, indecifrável para mim mesmo...
Encarem isto como um simples manifesto, um grito, um conclamar ou uma mera maneira de chamar atenção das garotas... Acima de tudo, aqui é um escrito de um cidadão que se indigna, de um homem que não presta atenção, que só lê a parte cultural das revistas semanais, destes que dão mais de uma dezena de real para entrar em festas que nada o preencham e nunca pisaram o pé numa obra assistencialista ou nestas ONGs que ainda ativam algo prático na solidariedade humana. Nunca li O Capital, nem qualquer outro autor que possa ser solucionática para um mundo melhor... Porem leio nas entrelinhas da convivência e, como todos, também desejo um lugar mais digno e cheio de alegrias, trabalho para todos, menos tráfico de qualquer coisa e CD’s mais baratos... Evidente que quero mais ética nos gabinetes de governar, menos merda de cachorro nas ruas, mais policiamento nas esquinas, carnaval todo mês e melhores escolas e faculdades públicas. Utopizo um Brasil mais rico e com menos desigualdades sociais, um salário condigno com suores e calos depositados, uma potência com cara de simplicidade, cheio de danças e culturas, orgulhos e talentos, de crianças sorridentes e cidadãos de cabeça erguida para frente e para um chegar...
Façam o que quiser com este artigo, esta intromissão, um ditame de blog, um emaranhado de palavras vãs, um amalgama de idéias desconexas... Deixo com vocês o destino disto que não ganhará menções em protestos universitários ou semiótica em camisas juvenis. Mas, lhe peço um favor, um favorzinho só: se forem jogar o trabalho deste precário escriba fora, joguem numa cesta de lixo reciclável. Salvem o mundo que é de vocês !!!
Ufa ! Desabafei...

(Texto que publiquei no blog "Rizoma Tapuia", em 2007)

3 comentários:

Hig@oººº disse...

Aí Teus a noite do poeta tá bala! recheado de cultura e de você! é sua cara, suas opiniões são uma delicia de se ler. grande abraço irmão, sempre que puder venho aqui "tomar um poema".

Anônimo disse...

Ok MAMA muito bom cara todo o blog! Show mesmo...está da política serve até para discussões em aula de faculdade...mende-a pro jornal Budokam...

Anônimo disse...

Ok MAMA muito bom cara todo o blog! Show mesmo...esta da política serve até para discussões em aula de faculdade...mande-a pro jornal Budokam...